quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Reflexão

Belém, os Magos e Herodes.
 “Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que os Magos vieram do Oriente a Jerusalém". (Mt 2, 1).

Mateus se cala sobre maiores detalhes a respeito dos Magos; daí a divergências entre os autores. Entretanto, podemos afirmar que o nome Magos não pode ser tomado com as conotações próprias aos nossos tempos. Naquela época, significava pessoas de certo poder e muito distintas, em especial pelos conhecimentos científicos, sobretudo de astronomia. Além disso, a tradição apresenta-nos como reis.
O rei Herodes não pertencia à raça dos judeus, pois era idumeu. Chegou ao trono por apoio dos romanos, era estrangeiro. Foi muito habilidoso, restaurando com esmero o Templo de Jerusalém, no intuito de que se esquecessem de suas origens. Porém, sua fama perpetuou-se pelas grandes máculas de seus costumes dissolutos e de sua crueldade. “Perguntaram eles: 'Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a Sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo".
Os Reis Magos demonstram possuir grande fé, e não pouca intrepidez, ao formularem uma pergunta tão incisiva, tanto mais que poderia ser interpretada por Herodes como sendo uma negação de seu título e de seu poder, conquistados com tantos esforços.
"Ouvindo isto, o rei Herodes ficou perturbado e toda Jerusalém com ele".

É de fácil compreensão esse temor, dada a grande ambição, inveja e crueldade. Sua esposa e seus três filhos puderam experimentar a violência de seu péssimo e impetuoso temperamento, pois foram mortos por uma determinação tirânica sua, nascida do medo de que o destronassem.

Para um homem com essa moral desregrada e tão mau caráter, o anúncio do surgimento miraculoso de um novo rei só poderia causar perturbação ... Herodes, maquina a morte do Messias com dolosa malícia; viu certamente o grande fervor dos Magos em relação a Cristo, e como não podia contar com a cumplicidade deles para matar o futuro rei, ocorreu-lhe enganá-los. Então, começou a tomar ares de devoção enquanto afiava a espada e pintava com cores de humildade a perversidade de seu coração. Assim procedem todos os perversos: quando querem causar ocultamente algum dano muito grave a alguém, mostram-se humildes e amigos em relação a ele.
“E, enviando-os a Belém, disse: 'Ide e informai-vos bem a respeito do Menino.Quando o tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu também vá adorá-lo".
"Tendo eles ouvido as palavras do rei, partiram. E eis que a estrela, que tinham visto no Oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o Menino, e ali parou. A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria".
Assim sempre procede Deus, recompensando aqueles que são fiéis à Sua graça. É comovedora a confiança penetrada de coragem desses Reis Magos, diante de um tirano de tão má fama. Não há dúvida de estarem sustentados pelo Espírito Santo.
"Entrando na casa, acharam o Menino com Maria, sua mãe".
Palavras proféticas, inspiradas pelo Espírito Santo, para deixar constando pelos séculos afora que não se pode encontrar Jesus sem Maria, e menos ainda, Maria sem Jesus. A História comprova - e muito mais o fará - o quanto a devoção à Mãe conduz à adoração ao Filho, e vice-versa.
"Avisados em sonho de não tornarem a Herodes, voltaram para sua terra por outro caminho". (Mt 2, 12)
Deus jamais deixa de proteger aqueles que o servem com amor e fidelidade. Se os Magos tivessem retornado a Herodes, eles mesmos poderiam ter precedido os inocentes na morte.

A todos nós, Deus nos faz retornar à Pátria "por outro caminho", segundo nos ensina São Gregório Magno. Infelizmente, deixamos o Paraíso Terrestre pelo pecado de orgulho de nossos primeiros pais; mais ainda, dele nos afastamos pelo apego às coisas deste mundo e devido aos nossos próprios pecados. Deus como bom Pai, nos oferece o Paraíso Eterno; mas, para nele entrar, o caminho é o oposto ao do orgulho e da sensualidade, ou seja, o do desprendimento, da obediência, da renúncia às nossas paixões.

Epfania do Senhor

Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dEle, o adoraram. “Depois, abriram seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra.” (Mt 2, 11).
A Epifania (palavra grega que significa, aparição) é o complemento do Natal - também denominada pelos gregos de Teofania, ou seja, manifestação de Deus - era celebrada no Oriente já antes do século IV. É uma das mais antigas comemorações cristãs, tal como a Ressurreição de Nosso Senhor.

      Não podemos esquecer que a Encarnação do Verbo se tornou efetiva logo após a Anunciação do Anjo; entretanto, apenas Maria, Isabel, José e, provavelmente, Zacarias tiveram conhecimento do grande mistério operado pelo Espírito Santo. O restante da humanidade não se deu conta do que se passou no período de gestação do Filho de Deus.

      Por fim, nasce o Redentor, como um simples bebê. Quem estivesse, porém, tomado por um dom do Espírito Santo, discerniria naquela adorável criança os resplendores dos raios de sua fulgurante divindade. Não se tratava de um ente puramente humano; àquela natureza se unia a própria Divindade: Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Ali estava o Homem-Deus.
      Se, por assim dizer, no natal Deus se manifesta como Homem, na Epifania esse mesmo Homem se revela como Deus. Assim, nestas duas festas, quis Deus que o grande mistério da encarnação fosse revelado com todo o brilho, tanto aos judeus como aos gentios, dado o seu caráter universal.

      No Ocidente, desde o princípio, celebrava-se o Natal a 25 de dezembro, e no Oriente, a Epifania a 6 de janeiro. Foi a Igreja de Antioquia, na época de São João Crisóstomo, que passou a comemorar as duas datas. Só a partir do século V é que no Ocidente começou a se celebrar a segunda festividade.

      Em nossa atual fase histórica, a Liturgia comemora a
Adoração dos Reis Magos ao Menino Jesus.
Por outro lado, ainda permanecem alguns vestígios da antiga tradição oriental que incluía na Epifania, além da Adoração dos Reis, o milagre das Bodas de Caná e o Batismo do Senhor no Jordão. Hoje, em nossa Liturgia, as Bodas de Caná não são mais celebradas, e o Batismo do Senhor é festejado no domingo entre os dias 7 e 13 de janeiro.

      Em síntese, podemos afirmar que a Epifania, ou seja, a manifestação do Verbo Encarnado, não pode ser considerada desligada da adoração que Lhe prestaram os Reis do Oriente. Nesta cena está concernido um público reconhecimento da divindade do Menino Jesus unida à Sua humanidade.
O Natal celebra Deus que se esconde e humilha, ao assumir a nossa natureza, para nos salvar. A Epifania celebra a Manifestação do Senhor como Deus e Rei Universal, ao mesmo tempo, que exalta a glória divina e contempla brilhando no rosto da Igreja, Sua Esposa, a nova Jerusalém, depositária dos tesouros imensos da graça, oferecidos a todos os Povos, à semelhança do que aconteceu com o Povo Judeu.
Nos Magos (Baltazar, Belchior e Gaspar), vemos representados aqueles que, em qualquer lugar e em qualquer tempo, procuram Jesus.
Ora, o que movia o fundo da alma dos Reis Magos era o desejo de prestar culto de adoração Àquele que acabara de nascer. O significado da moção do Espírito Santo, levando-os a Belém, cifra-se no chamado universal de todas as nações à salvação e à participação nos bens da Redenção.

      Se aos Reis Magos Deus os chamou por meio da estrela, a nós Ele nos chama através de Sua Igreja, com sua pregação, doutrina, governo e Liturgia. Logo, a Epifania é a festa que nos convida a agradecermos ao Senhor, como também a Lhe implorar a graça de sermos guiados sempre e por toda parte através de Sua luz celeste, bem como de acolhermos com fé e vivermos com amor todos os dons que a Santa Igreja nos dá.
Deste modo, a Epifania revela:
  • O aspecto glorioso e divino do mistério natalício, que será plenamente revelado na Manifestação final do Senhor, termo e meta da História humana.
  • O caráter “universal” da mensagem evangélica: também os pagãos são chamados à salvação, também para eles Cristo não é apenas o Messias do AT., ligado à esperança duma nação, raça ou religião, mas, o Messias vindo para todos os homens que, duma maneira ou de outra, todos esperam.
  • A missão da Igreja no nosso tempo, que consiste em ser, como ”coletividade”, e em cada cristão, uma “Manifestação” autêntica de Cristo, de modo que todos reconheçam no testemunho da Igreja o testemunho perene do Evangelho de Cristo.

Solenidade da Santa Maria, Mãe de Deus

A Solenidade da Santa Maria Mãe de Deus é a primeira Festa Mariana que apareceu na Igreja Ocidental, sua celebração se começou a dar em Roma no século VI, provavelmente junto com a dedicação em 1º de janeiro do templo “Santa Maria Antiga”.
“A antigüidade da celebração Mariana se constata nas pinturas com o nome de Maria Mãe de Deus” (Theotókos) que foram encontradas nas Catacumbas ou antiquíssimos subterrâneos que estão cavados debaixo da cidade de Roma, onde se reuniam os primeiros cristãos para celebrar a Missa em tempos das perseguições.
Mais adiante, o rito romano celebrava em 1º de janeiro a oitava de Natal, comemorando a circuncisão do Menino Jesus. Depois de desaparecer a antiga festa Mariana, em 1931, o Papa Pio XI, com ocasião do XV centenário do concílio de Éfeso (431), instituiu a Festa Mariana para em 11 de outubro, em lembrança deste Concílio, onde se proclamou solenemente Santa Maria como verdadeira Mãe de Cristo, que é verdadeiro Filho de Deus. Mas na última reforma do calendário – após o Concílio Vaticano II – se transladou a festa para 1º de janeiro, com a máxima categoria litúrgica, de solenidade, e com título da Santa Maria, Mãe de Deus.
Desta maneira, esta Festa Mariana encontra um marco litúrgico mais adequado no tempo do Natal do Senhor; e ao mesmo tempo, todos os católicos começam o ano pedindo o amparo da Santíssima Virgem Maria.
O Concílio de Éfeso
No ano de 431, o herege Nestorio se atreveu a dizer que Maria não era Mãe de Deus, afirmando: “Então Deus tem uma mãe? Pois então não condenemos a mitologia grega, que lhes atribui uma mãe aos deuses”.
Ante isso, reuniram-se os 200 bispos do mundo em Éfeso – a cidade onde a Santíssima Virgem passou seus últimos anos – e iluminados pelo Espírito Santo declararam: “A Virgem Maria sim é Mãe de Deus porque seu Filho, Cristo, é Deus”. E acompanhados por toda a multidão da cidade que os rodeava levando tochas acesas, fizeram uma grande procissão cantando: "Santa Maria, Mãe de Deus, roga por nós pecadores agora e na hora de nossa morte. Amém".
Do mesmo modo, São Cirilo da Alexandria ressaltou: “Será dito: a Virgem é mãe da divindade? A isso respondemos: o Verbo vivente, subsistente, foi engendrado pela mesma substância de Deus Pai, existe desde toda a eternidade... Mas no tempo ele se fez carne, por isso se pode dizer que nasceu de mulher”.
Mãe do Menino Deus
"Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo sua palavra"
Faça-se. Santa Maria respondeu firme e amorosamente ao Plano de Deus; graças a sua entrega generosa Deus mesmo se pôde encarnar para nos trazer a Reconciliação, que nos libera das feridas do pecado.
A donzela de Nazaré, a cheia de graça, ao assumir em seu ventre o Menino Jesus, a Segunda Pessoa da Trindade, converte-se na Mãe de Deus, dando tudo de si para seu Filho; vemos porque tudo nela aponta a seu Filho Jesus.
É por isso, que Maria é modelo para todo cristão que busca dia a dia alcançar sua santificação. Em nossa Mãe Santa Maria encontramos a guia segura que nos introduz na vida do Senhor Jesus, nos ajudando a nos conformar com Ele e poder dizer como o Apóstolo “vivo eu mais não eu, é Cristo quem vive em mim”.