domingo, 29 de setembro de 2013

Liturgia da Palavra

Sentir Deus falando
Um sagrado direito do povo de Deus 

          Na liturgia, sobretudo na missa, Cristo está presente de várias maneiras, uma delas, é quando se lêem as Escrituras. Quando se fazem as leituras, se canta o salmo e se proclama o Evangelho, é Cristo mesmo que se comunica com o seu povo reunido. Não é um livro e não são palavras que se lêem, mas a Palavra viva (Cristo mesmo) que se anuncia como palavra de vida para todos. É o que nos ensina a Igreja; Veja a Constituição sobre a sagrada Liturgia n. 7 - "Para realizar tão grande obra, Cristo está sempre presente na sua igreja, especialmente nas acções litúrgicas.Está presente na sua palavra, pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura. Está presente, enfim, quando a Igreja reza e canta, Ele que prometeu: "Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles" (Mt. 18,20)" -  e n. 33 - Embora a sagrada Liturgia seja principalmente culto da majestade divina, é também abundante fonte de instrução para o povo fiel. Efectivamente, na Liturgia Deus fala ao Seu povo, e Cristo continua a anunciar o Evangelho. Por seu lado, o povo responde a Deus com o canto e a oração -  do concílio Vaticano II, em 1963.
          Então eu pergunto: Quando você vai à missa ou mesmo numa celebração dominical da palavra, dá para sentir de fato que é Deus que está falando com o seu povo, quando se lêem as Escrituras? Ou tem alguma coisa (algum “ruído”) que atrapalha?... E olha! Você tem todo direito (e até obrigação!) se sentir Deus falando com você (veja o n. 14 da citada Constituição - É desejo ardente na mãe Igreja que todos os fiéis cheguem àquela plena, consciente e activa participação nas celebrações litúrgicas que a própria natureza da Liturgia exige e que é, por força do Batismo, um direito e um dever do povo cristão, "raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido" (1 Ped. 2,9; cfr. 2, 4-5))! Você está conseguindo desfrutar deste sagrado direito?

ALGUMAS RECOMENDAÇOES
            Pois bem, para que você possa, na missa, desfrutar do sagrado direito de sentir Cristo falando com você e com todo o seu povo, seguem aqui algumas recomendações para as equipes de liturgia, para os leitores, para os salmistas e para o padre:

  • PREPARA-SE COM ANTECEDÊNCIA
            - Quem vai ler (proclamar) deve preparar-se espiritualmente. Ler antes. Meditar. Orar em cima da Palavra. Deixar ela tomar conta de todo o seu ser (corpo, mente, coração, emoções). O leitor e a leitora devem ser os primeiros ouvintes da Palavra. Preparar-se também tecnicamente, através de ensaios, cursos e avaliações: é muito importante.
  • EVITAR O IMPROVISO
            - Atenção equipe de liturgia! Evitar pegar pessoas na última hora, para ler, em cima da hora, de improviso. Inclusive se recomenda que a leitura seja entregue pela equipe com bastante antecedência, para ser preparada com calma, até mesmo durante toda a semana.
  • LUGAR DA PROCLAMAÇÃO


            - Recomenda-se que a proclamação da Palavra seja feita de um lugar apropriado, só para ela: de uma estante especial, grande, bonita, distinta. Isso para enfatizar o “lugar”de onde Deus fala para o seu povo. Por isso, para dar distinção à Palavra, não usar este espaço para outra coisa. Comentários e avisos sejam feitos em outro lugar.
  • LIVRO DA PALAVRA
            - A Igreja orienta que as leituras sejam feitas diretamente do livro de leituras (chamado de Lecionário) Isso por causa da dignidade da Palavra de Deus. O folheto é um descartável. Hoje se usa e amanhã é jogado fora, vai para o lixo. A Palavra não é descartável. É eterna. É Cristo. Por isso, por ser eterna, convem que ela seja proclamada diretamente do livro (não descartável), e não do folheto. A dignidade da Palavra exige que se evite o “ruído” do uso de descartáveis para a sua proclamação.
  • OUVIR A PALAVRA
            Recomenda-se também que, ao ouvir a Palavra (seja nas leituras e no canto do salmo, como, sobretudo na proclamação do Evangelho), o povo não fique acompanhando pelo folheto. A Palavra é para ser “ouvida”! Deus fala e você ouve... Quando alguém fala com você (ainda mais quando é Deus que fala), você fica de olho grudado no jornal? Evidente que não! É questão até de educação. Seja bem educado(a)! Quando Deus fala para você, desgrude o olho do jornal. Apenas olhe para a frente (para o leitor ou a leitora) e escute, “ouça”o que o Senhor diz! O ideal seria que os folhetos nem trouxessem os textos das leituras, do salmo e do evangelho. Exatamente para ajudar o povo a exercer o seu sagrado direito de realmente sentir Deus falando.
  • PROCLAMAR
            Quem proclama a Palavra, ao fazer as leituras, facão com voz clara (para todos ouvirem), devagar, pausadamente, respeitando as pontuações e, sobretudo, ler com espiritualidade vivenciando o que lê, evite-se o “ruído” da leitura rápida demais, em voz baixa, sem pontuação e, sobretudo, sem espiritualidade.
  • POSTURA
            - A dignidade da Palavra de Deus exige também, da parte de quem lê, uma postura digna. O leitor (ou a leitora) fique apoiado (a) sobre os dois pés, exatamente para expressar  a firmeza desta rocha que é a Palavra. Por isso, evite-se o “ruído” de permanecer apoiado (a) sobre um pé só ao ler, olhar com carinho para os ouvintes, como Deus olha para seu povo. No olhar de quem lê, os ouvintes querem sentir o olhar de Deus. Evite-se, portanto, o “ruído” de ficar com o olhar preso no livro. E, mais: em muitas comunidades no Brasil, quem vai fazer a leitura coloca uma veste própria para o exercício deste ministério.
  • OS TITULOS
            - Não ler os títulos orientativos, tais com: “Primeira leitura”, “Segunda leitura”, “Salmo responsorial”, Evangelho”. Isso não é Palavra de Deus. São apenas títulos orientativos para não se perder. Quando estes títulos são lidos, quebra-se o ritmo e a harmonia da escuta da Palavra. Evite-se também estes “ruídos”.
  • O NOME DA PESSOA QUE VAI LER
            - Nunca se diga o nome da pessoa que vai fazer a leitura. Dizer o nome da pessoa, no caso, significa “roubar a cena” da Palavra. Toda a atenção tem que estar centrada na Palavra. E dize o nome de quem vai ler é um “ruído” a mais que distrai.
  • PALAVRA DO SENHOR, DA SALVAÇÃO
            - Quando termina a leitura, diga-se “Palavra do Senhor” ou “Palavra da Salvação” (no caso do Evangelho), no singular. Por que? Porque é Cristo-Palavra que foi proclamado. Por isso, evite-se o ruído de dizer “Palavras do Senhor” ou “Palavras da Salvação” (no plural). Pois não são palavra lidas, mas é “a Palavra” que é proclamada. Outra coisa: faça-se uma pequena pausa antes de dizer “Palavra do Senhor” ou “Palavra da Salvação”. Isso ajuda a vivenciar melhor o que foi ouvido.
            São algumas recomendações úteis, para que o povo possa viver mais plenamente o seu sagrado direito (e obrigação) de sentir Deus falando, quando se lêem as Escrituras na missa. Queira Deus que isso aconteça em nossas comunidades. Afinal, é o sagrado sonho do Concílio Vaticano II, que mais de 40 anos já passaram.
Frei José Ariovaldo da Silva , OFM