quinta-feira, 18 de julho de 2013

Pedras vivas


Costumo ouvir falar sobre “igreja” como referência à instituição ou ao templo. Nossa! É incrível ver como os que se dizem católicos, em muitos casos, não se reconhecem como Igreja. É comum ouvir falar da Igreja sempre como algo distante, externo, alheio. Um membro da Igreja, membro de coração e de vida, se reconhecerá, naturalmente, como Igreja – o que faz recordar a conhecida frase: “Sou Igreja; somos Igreja”.
E o que é, realmente, ser Igreja? Acaso há uma lista de coisas a fazer para se considerar membro efetivo, de modo que, ao cumprir tudo ou maior parte, se possa assinar em baixo numa carteirinha de “católico praticante”? Claro que não é assim. A Igreja é uma família – família dos filhos de Deus que professam a mesma fé. E como família não é burocracia, mas uma vivência, família é família a toda hora e em todo lugar, então ser Igreja é fazer jus, de fato, a essa pertença, em todo instante da vida. Trata-se, pois, de algo que deve ser muito natural.
Falar em ser Igreja faz lembrar, naturalmente, a questão da aproximação à Igreja. Creio que o cartão de entrada para uma pessoa se aproximar de uma comunidade é, antes de tudo, a acolhida – não é, primordialmente, divulgação, convite ou propaganda, mas, sobretudo, a acolhida. Outro dia, na homilia da missa que preside todas as manhãs na capela Casa Santa Marta, no Vaticano, o papa Francisco refletia sobre a acolhida por parte dos membros da Igreja aos que dela se aproximam. Na ocasião, o pontífice oferecia exemplos do que tem sido o acolhimento pastoral em muitas de nossas paróquias e comunidades. Muitos casais, citava como exemplo o papa, procuram setores paroquiais com o desejo de realizar o matrimônio: acabam, não raras vezes, encontrando uma senhora burocracia, sendo acolhidos não com felicitações por sua decisão tão digna e cristã, mas, em vez disso, imediatamente recebem informações sobre taxas e datas e documentos a serem entregues. Assim, tantas vezes, ressaltava o papa, “somos controladores da fé em vez de nos tornarmos facilitadores da fé das pessoas” (tradução livre).
A indagação do pontífice nos faz refletir sobre como está sendo a caminhada de fé e de vida nas nossas comunidades. Além da notável dificuldade de acolhimento, precisamos ser muito realistas num assunto: onde estão a unidade e a caridade fraterna? Esses dois elementos indispensáveis para autênticas experiências de fé parecem ser, hoje, na maioria das vezes, apenas temas de palestras ou inspirações para canções... e nada mais! Onde está o testemunho de unidade e de caridade dos que estão inseridos nas nossas comunidades? Não parece que o que vemos, em alguns casos, não é exatamente uma Igreja onde os ministérios e as funções confiadas são tudo, menos ocasião para o serviço desinteressado aos irmãos? Vale lembrar que a Igreja deve ser uma comunidade cujos membros buscam a comunhão e o crescimento mútuo, movidos pela caridade que inspira o Evangelho. E isso não é conselho pastoral, e, sim, exigência evangélica.
“C’è una chiesa minore, e c’è una maggiore”, dizia certa vez um missionário italiano de cujo nome não me recordo, mas que me marcou com suas belas palavras. Há uma igreja maior e uma menor, dizia ele. A menor, explicava, é aquela formada por pedras e tijolos, os templos que encontramos pelas cidades, das mais grandiosas catedrais às mais singelas capelinhas. E há, continuava, a maior, que se constitui de pedras vivas: a Igreja que somos todos nós batizados, nós que formamos o Corpo Místico cuja Cabeça e Fundamento é Jesus. Eis, portanto, o convite que nos é feito neste tempo em que o testemunho cristão para o mundo parece ser cada dia mais necessário: sejamos Igreja viva, no nosso cotidiano, nas nossas celebrações, nos marcantes momentos da nossa vida, mas, sobretudo, nos pequenos gestos que formam o nosso viver.

André Sampaio
Fortaleza (CE)