PREPARANDO O NATAL DO SENHOR
O que é Advento?
O que significa a palavra “advento”? É a tradução do latim “adventus”. Antes de ser usada no cristianismo, podia significar duas coisas. Primeiro, acreditava-se que a divindade vinha a seu templo uma vez por ano, num dia fixo, para visitar seus fiéis durante o culto e trazer-lhes salvação. Este dia era chamado “adventus”, o dia da vinda. Muitos templos só abriam suas portas naquele dia. Também a primeira visita de uma pessoa importante, principalmente para tomar posse e assumir o governo ou algum outro cargo importante, era chamada de “adventus” ou, em grego, “parusia” ou “epifania” (manifestação).
O dia da visita de Deus
Mas de que modo devemos, então, entender “advento” no sentido cristão? O Antigo Testamento fala inúmeras vezes das visitas ou vindas de Javé a seu povo para realizar suas promessas (P.ex. Gênesis 50, 24s; Jeremias 29,10; Zacarias 10,3 etc.) ou para castigar a infidelidade de seu povo e, assim, ainda assegurar a salvação dele (Amos 3,2; Oséias 4,9; Isaías 10,3 etc.). Este dia da visita é também chamado “Dia de Javé” ou “Dia do Senhor”. Principalmente após o exílio, aguardava-se uma visita espetacular, uma intervenção definitiva de Javé para salvar seu povo e submeter todas as nações, no “fim dos Tempos”, estabelecendo assim o reino definitivo de Deus (Sabedoria 3,7; Eclesiástico 2,14 etc.)
Jesus veio
O Novo Testamento diz que Deus realizou esta visita na pessoa de Jesus de Nazaré. (Lc 2,30-31) Simeão recebe o Menino: “Meus olhos já viram a salvação que preparaste diante de todos os povos”. Os discípulos de Jesus tinham certeza de que ele iria inaugurar o reino definitivo de Deus. Assustaram-se com sua morte: “Nós esperávamos que ele fosse redimir Israel...” mas... “nossos sumos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte” (Lc 24,20-21). Depois começaram a entender o sentido da morte e da cruz.
Advento não é tempo penitencial
Embora o Advento insista em nossa conversão, não tem mais aquele caráter penitencial de antes da reforma Litúrgica. A conversão consiste em prepararmos, alegres e ligeiros, cheios de esperança, o caminho do Senhor que vem. Por isso o roxo não seria a cor do advento já que esta indica mais a penitencia (estamos procurando colocar o lilás), o silêncio dos instrumentos musicais quando não acompanham o canto, a falta do glória, a ausência de flores... De qualquer modo, é bom que o Advento, sendo temo de preparação, tenha um tom mais discreto, para que a alegria seja maior na festa do Natal.
CELEBRANDO O ADVENTO
O Senhor Jesus, ao partir deste mundo para o Pai, ordenou que vigiássemos e esperássemos em sua promessa. Se toda vida cristã é a espera vigilante de sua firme manifestação – e a cada dia suplicamos na oração do Senhor “Venha o teu Reino!” -, a Igreja nos oferece um tempo próprio para cumprir esta palavra do Cristo, nutrir a esperança de sua nova vinda e preparar o seu novo Natal.
A espera e o desejo constituem, sem dúvida, a experiências humanas significativa que, assumidas no advento, nos ajudam a participar mais plenamente do mistério pascal do Cristo. Tal como a noiva vai ao encontro do seu bem-amado, a terra se abre à semente, a sentinela espera o dia chegar, as comunidades cristãs celebram esta páscoa do advento, acolhendo a bênção do alto que nos transtorna e renova, começando uma etapa nova, um novo ano litúrgico.
“Aparecido como por um instante em nosso meio, o Messias se deixou tocar e ver solenemente para perder-se de novo, mais luminoso e inefável que nunca, no abismo insondável do futuro. Veio. Mas agora temos que esperá-lo mais do que nunca, e já não apenas por um pequeno grupo de eleitos, mas por todos. O Senhor Jesus virá à medida que saibamos esperá-lo ardentemente. Há de ser um acúmulo de desejos que fará apressar o seu retorno”. (Pirre Teilhard de Chardin)
O culto cristão é sempre celebração da vinda do Senhor. Entretanto, antes de celebrar o nascimento de Jesus Cristo, somos especialmente convidados a proclamar que o Senhor vem e a nos preparar para a sua vinda.
Nas primeiras semanas do advento, vigilantes, esperamos a vinda gloriosa do Salvador, Jesus Cristo. Nas duas últimas, lembramos a esperança dos profetas e da santa Virgem Maria, preparamos mais especialmente o natal de Jesus.
“O advento se apresenta como tempo de devota e jubilosa esperança.
O Advento dentro do Ano Litúrgico
Costumamos dizer que o ano litúrgico começa com o primeiro domingo do Advento, assim como o ano civil começa em 1º de janeiro. Bem para falar a verdade, o ano litúrgico não tem começo nem fim. A cada ano voltam duas grandes festas: Páscoa e Natal. Páscoa é mais importante que o natal. É a maior festa cristã, porque celebra a ressurreição de Jesus. Cada festa é precedida por um tempo de preparação (Quaresma e Advento) e se prolonga em outros domingos e festas (tempo pascal e tempo de Natal). Entre estes dois tempos há trinta e quatro “domingos e semanas do tempo comum”, às vezes substituídos por algumas festas importantes: festa de São João, de São Pedro e São Paulo, da Assunção de Maria, de Todos os Santos, Finados etc.
Lembretes
Para celebrarmos profundamente o advento, é importante não esquecermos de alguns símbolos e cuidados:
- A aclamação litúrgica “Vem, Senhor Jesus!” torna-se a grande súplica das comunidades, em sua prece, refrões e antífonas.
- As Igrejas de rito latino deixam de cantar o glória para guardar as energias para a festa do Natal.
- A própria comunidade reunida para a oração, a escuta da Palavra e o louvor é sinal da espera da vinda do Senhor.
- O livro sagrado recebe um cuidado especial – é enfeitado, aclamado, incensado -, como expressão da nossa vontade de acolher o verbo de Deus em nossa vida, como Maria.
- A organização de uma celebração de reconciliação e de penitência ajuda as comunidades no caminho da conversão.
- O diretório litúrgico indica o roxo como cor litúrgica, exceto no 3º domingo, para o qual propõe o rosado. Muitas comunidades estão o usando o rosado como cor litúrgica para todo o advento, para diferenciar do roxo da quaresma e para significar a alegre espera que caracteriza a celebração deste tempo.
- O 3º domingo é conhecido na tradição latina como o domingo Gaudete, palavra que significa “Alegrar-se” e que é o começo de uma antífona própria deste domingo: Alegrai-vos sempre no Senhor, alegrai-vos no Senhor. Alegrai-vos, alegrai-vos. Alegrai-vos no Senhor. Além da cor rosado, as flores e instrumentos servem para fortalecer as comunidades na espera do novo Natal e intensificar os esforços de preparação da festa.
- Dentro da “mística da gravidez”, que nos faz crer na vida que vai nascer, pode ser assumido como gesto litúrgico a participação da mulher nos diversos serviços da celebração e a acolhida das mães gestantes por meio de algum serviço que elas exerças ou de uma bênção própria no final da celebração.
- É importante ajudar as comunidades a recuperarem os cantos do advento, deixando os cantos próprios de Natal só para a festa.
O caráter de vigilância e espera do advento é, no Brasil, vivenciado na novena do Natal. São orações em família, visita aos pobres, gestos de solidariedade com os mais pobres.