Costumo
ouvir falar sobre “igreja” como referência à instituição ou ao templo. Nossa! É
incrível ver como os que se dizem católicos, em muitos casos, não se reconhecem
como Igreja. É comum ouvir falar da Igreja sempre como algo distante, externo,
alheio. Um membro da Igreja, membro de coração e de vida, se reconhecerá,
naturalmente, como Igreja – o que faz recordar a conhecida frase: “Sou Igreja;
somos Igreja”.
E o que
é, realmente, ser Igreja? Acaso há uma lista de coisas a fazer para se
considerar membro efetivo, de modo que, ao cumprir tudo ou maior parte, se
possa assinar em baixo numa carteirinha de “católico praticante”? Claro que não
é assim. A Igreja é uma família – família dos filhos de Deus que professam a
mesma fé. E como família não é burocracia, mas uma vivência, família é família
a toda hora e em todo lugar, então ser Igreja é fazer jus, de fato, a essa
pertença, em todo instante da vida. Trata-se, pois, de algo que deve ser muito
natural.
Falar em
ser Igreja faz lembrar, naturalmente, a questão da aproximação à Igreja. Creio
que o cartão de entrada para uma pessoa se aproximar de uma comunidade é, antes
de tudo, a acolhida – não é, primordialmente, divulgação, convite ou
propaganda, mas, sobretudo, a acolhida. Outro dia, na homilia da missa que
preside todas as manhãs na capela Casa Santa Marta, no Vaticano, o papa
Francisco refletia sobre a acolhida por parte dos membros da Igreja aos que
dela se aproximam. Na ocasião, o pontífice oferecia exemplos do que tem sido o
acolhimento pastoral em muitas de nossas paróquias e comunidades. Muitos casais,
citava como exemplo o papa, procuram setores paroquiais com o desejo de
realizar o matrimônio: acabam, não raras vezes, encontrando uma senhora
burocracia, sendo acolhidos não com felicitações por sua decisão tão digna e
cristã, mas, em vez disso, imediatamente recebem informações sobre taxas e
datas e documentos a serem entregues. Assim, tantas vezes, ressaltava o papa,
“somos controladores da fé em vez de nos tornarmos facilitadores da fé das
pessoas” (tradução livre).
A
indagação do pontífice nos faz refletir sobre como está sendo a caminhada de fé
e de vida nas nossas comunidades. Além da notável dificuldade de acolhimento,
precisamos ser muito realistas num assunto: onde estão a unidade e a caridade
fraterna? Esses dois elementos indispensáveis para autênticas experiências de
fé parecem ser, hoje, na maioria das vezes, apenas temas de palestras ou
inspirações para canções... e nada mais! Onde está o testemunho de unidade e de
caridade dos que estão inseridos nas nossas comunidades? Não parece que o que
vemos, em alguns casos, não é exatamente uma Igreja onde os ministérios e as
funções confiadas são tudo, menos ocasião para o serviço desinteressado aos
irmãos? Vale lembrar que a Igreja deve ser uma comunidade cujos membros buscam
a comunhão e o crescimento mútuo, movidos pela caridade que inspira o
Evangelho. E isso não é conselho pastoral, e, sim, exigência evangélica.
“C’è una chiesa
minore, e c’è una maggiore”, dizia certa vez um missionário italiano de cujo
nome não me recordo, mas que me marcou com suas belas palavras. Há uma igreja
maior e uma menor, dizia ele. A menor, explicava, é aquela formada por pedras e
tijolos, os templos que encontramos pelas cidades, das mais grandiosas
catedrais às mais singelas capelinhas. E há, continuava, a maior, que se
constitui de pedras vivas: a Igreja que somos todos nós batizados, nós que
formamos o Corpo Místico cuja Cabeça e Fundamento é Jesus. Eis, portanto, o
convite que nos é feito neste tempo em que o testemunho cristão para o mundo parece
ser cada dia mais necessário: sejamos Igreja viva, no nosso cotidiano, nas nossas
celebrações, nos marcantes momentos da nossa vida, mas, sobretudo, nos pequenos
gestos que formam o nosso viver.
André Sampaio
Fortaleza
(CE)
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