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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Tempo Comum

ILUMINADOS PELA PALAVRA
            O início do Tempo Comum acontece com a apresentação de Jesus Cristo como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Evangelho). Apresentação que dá continuidade ao contexto da Epifania, da manifestação de Jesus Cristo ao mundo. É também continuidade do episódio batismal, ressaltando o testemunho de João Batista de que Jesus é o Filho de Deus, o enviado de Deus para salvar o mundo inteiro (Evangelho). A Palavra deste 2º Domingo, no entanto, concentra-se no contexto da Salvação universal realizada por Jesus, oferecendo-se como sacrifício para fazer a vontade do Pai (salmo responsorial). Ele é o servo profetizado por Isaías que levará a Salvação divina aos confins da terra (1ª leitura) e aquele que tira o pecado do mundo (Evangelho). Ainda no contexto da Salvação universal, Paulo dirige sua carta a quem é convocado à santidade em todas as partes do mundo (2ª leitura).
            Na Bíblia, encontramos uma corrente teológica que considerava a Salvação restrita ao povo hebreu e a entendia como a reunificação de Israel. Embora presente em Isaías — “que eu recupere Jacó para ele e faça Israel unir-se a ele”
(1ª leitura)— a mesma profecia evidencia que a missão salvadora do servo é a de se tornar luz para todos os povos da terra (1ª leitura). Jesus é este servo, aquele que recebeu e assumiu a responsabilidade de realizar o projeto salvador no mundo (salmo responsorial) para todos os povos. João Batista dá testemunho dessa realidade (Evangelho).
            O termo “testemunho” ou “testemunha” significa originalmente “alguém que viu” ou então, “alguém que fala daquilo que viu”. O Evangelho deste Domingo não diz que João Batista refere-se a Jesus como alguém que foi batizado por ele, mas que viu o Espírito Santo pousando sobre ele e consagrando-o
(Evangelho). Fato que provoca mudança no conceito de Batismo. Não mais um rito de purificação exterior e interior, como diziam os essênios, nem só purificação do coração, como pregava João Batista, mas o Batismo como relação pessoal com o Espírito de Deus. A diferença está na presença ativa do Espírito Santo que, no Batismo, pousa sobre quem é batizado.
            É a partir da experiência do Batismo de Jesus, que todos os batizados participam da filiação divina. Jesus é o Filho de Deus, mas não só. É também testemunhado por João Batista como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Evangelho) e, enquanto tal é o Salvador, o servo que ilumina o mundo com sua Salvação (1ª leitura). Ao apontar Jesus como Cordeiro de Deus, João Batista evoca nos ouvintes o significado do Cordeiro Pascal para o povo de Israel, que com seu sangue, tingido nas portas dos hebreus, libertou e salvou o povo da escravidão do Egito. Participar da Salvação, diz São Paulo, é participar da Páscoa de Jesus Cristo (Rm 6) que, ao se fazer (com seu sangue) sacrifício para realizar a vontade do Pai (salmo responsorial), nos liberta da morte, nos salva e nos torna filhos e filhas de Deus.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Sugestões para celebrar o Advento

Sendo o Advento o tempo litúrgico que abre o calendário da liturgia católica, nada mais adequado que iniciar um roteiro de dicas litúrgicas com esse tempo.
Em algumas postagens anteriores vimos o sentido do Advento. Vamos nos concentrar agora em sua celebração.
Primeiro, lembraremos algumas características gerais; em seguida, sugestões para a celebração.
Características das celebrações do Advento
- Usa-se a cor roxa para as vestes litúrgicas. No 3º domingo, a cor usada tradicionalmente é o cor-de-rosa, por ser o “domingo Gaudet”, referente à segunda leitura, na qual o apóstolo convida: Alegrem-se.
- O Advento é celebrado com sobriedade e com uma alegria discreta, quase contida. Por isso, não se canta o Gloria... (a não ser em algumas solenidades e festas, e m algumas celebrações especiais); fica reservado para a noite do e o dia do Natal, quando juntamos nossa voz à dos anjos para dar glória a Deus pela salvação que realiza em nosso meio. O Aleluia..., no entanto, continua ressoando.
- Pelo mesmo motivo da sobriedade, devemos usar flores e instrumentos com moderação, para não antecipar a plena alegria do Natal do Senhor.
Sugestões para a equipe de liturgia
  • Espaço da celebração e acolhida: preparar bem o espaço celebrativo, de modo que todos perceberam o clima de alegre expectativa da comunidade. Para isso, alguns símbolos são importantes.
  • Coloque na estrada da igreja um tronco grande, do qual deve sair um broto (que poderá ser uma orquídea ou qualquer planta verde, que dure todo o Tempo do Advento). Esse símbolo alude a comunidade que do tronco de Jessé nascerá o rebento de Davi. Ele simboliza também o sentido da espera.
  • Fazer a coroa do Advento, com ramos verdes, e a cada domingo, introduzir uma vela até completar quatro no final do Advento.
  • Acolhida: forme uma equipe de acolhida (se ainda não houver) e procure fazer uma acolhida afetuosa aos que chegam para a celebração. Nessa acolhida poderá ser dita frases como: “O Senhor já está chegando, seja bem-vindo (a)”, ou outras palavras que lembrem o significado do Tempo do Advento.
  • Ritos iniciais: na procissão de entrada, uma pessoa traz a coroa do Advento sem as velas e a deposita no suporte que já deverá estar preparado em local visível para todos. Essa entrada da coroa só se faz no primeiro domingo do Advento.
  • Quem preside ou o comentarista convida a comunidade a acolher a primeira vela do Advento (se possível, trazida por uma mulher gravida). Enquanto a vela se aproxima acesa, o grupo de canto entoa um refrão meditativo, do tipo: “Teu sol não se apagará”, ou “Ó luz do Senhor” (CD do Ofício divino das comunidades). A vela é colocada na coroa e quem a deposita, erguendo as mãos e o olhar para o alto, diz o seguinte bendito: “Bendito sejas, Senhor Deus das promessas, pela luz de teu Filho, Jesus Cristo, Senhor das nossas vidas e da história, a quem esperamos ansiosos e felizes! Ao término, todos entoam novamente o mesmo refrão meditativo.
  • Antes da primeira leitura o grupo de canto pode entoar um canto para dispor a comunidade em atitude de escuta. Esse canto poderia substituir o comentário que existe antes das leituras nos folhetos.
  • Preces: a resposta às preces poderá ser cantada e expressar desejo e expectativa, como: “Vem, Senhor. Vem Senhor. Vem libertar o seu povo”, ou semelhante.

Origem da Coroa do Advento

A Coroa de Advento tem a sua origem em uma tradição pagã européia. No inverno, se acendiam algumas velas que representavam o “fogo do deus sol”. Tinham a esperança de que a sua luz e o seu calor voltasse. Os primeiros missionários aproveitaram esta tradição para evangelizar as pessoas. Partiam de seus próprios costumes para anunciar-lhes a fé. Os cristãos assimilaram estas tradições, marcando a espera do natal (nascimento de Jesus, luz do mundo) com a confecção de uma coroa luminosa, nos mesmos moldes das antigas tradições germânicas.
Assim, a coroa está formada por uma grande quantidade de símbolos:
A forma circular
O círculo não tem princípio, nem fim. É sinal do amor de Deus que é eterno, e também do nosso amor a Deus e ao próximo que nunca se deve terminar. Além disso, o círculo dá uma ideia de “elo”, de união entre Deus e as pessoas, como uma grande “Aliança”.

As ramas verdes
Verde é a cor da esperança e da vida. Deus quer que esperemos a sua graça, o seu perdão misericordioso e a glória da vida eterna no final de nossa vida. Bênçãos que nos foram derramadas pelo Senhor Jesus, em sua primeira vinda entre nós, e que agora, com esperança renovada, aguardamos a sua consumação, na sua segunda e definitiva volta. Por isso que, nos lugares onde a coroa é de barro dar-se a dica de enfeitá-la com ramas verdes.

As quatro velas
As quatro velas da coroa simbolizam cada uma delas, uma das quatro semanas do Advento. No início, vemos nossa coroa sem luz e sem brilho. Nos recorda a experiência de escuridão do pecado. À medida que se vai aproximando o natal, vamos ao passo das semanas do Advento, acendendo uma a uma as quatro velas representando assim a chegada, do Senhor Jesus, luz do mundo, quem dissipa toda escuridão, trazendo aos nossos corações a reconciliação tão esperada.


Nos domingos do Advento, é de costume que as famílias e as comunidades católicas se reúnam em torno à coroa para rezar. A liturgia de coroa, como é conhecida esta oração em torno à coroa, se realiza de um modo muito simples. Todos se colocam em volta da coroa; se acende a vela que corresponde à semana em questão, acompanhando, se possível, com um canto. Logo se lê uma passagem da Bíblia, própria do tempo do Advento e se fazem algumas meditações.
Sugestões:
a) Se recomenda fazer a coroa de Advento em família, aproveitando a ocasião para ensinar as crianças o sentido e o significado de tal símbolo de natal.
b) A coroa deverá estar em um lugar privilegiado da casa, de preferência onde seja facilmente visível a todos, recordando assim a vinda cada vez mais próxima do Senhor Jesus e a importância de preparar-se bem para este momento.
c) É conveniente fixar um horário para se fazer a liturgia da coroa de Advento de maneira tal que seja uma ocasião familiar e ordenada, com a participação consciente de todos.
d) Se recomenda repartir as funções de cada membro da família durante a liturgia. Um pode ser o que acende a vela, outro o que lê a passagem bíblica, outro que faz algumas preces, outro que faz algum comentário... Em fim, a ideia é que todos possam participar e que seja uma ocasião de encontro familiar.

domingo, 29 de setembro de 2013

Liturgia da Palavra

Sentir Deus falando
Um sagrado direito do povo de Deus 

          Na liturgia, sobretudo na missa, Cristo está presente de várias maneiras, uma delas, é quando se lêem as Escrituras. Quando se fazem as leituras, se canta o salmo e se proclama o Evangelho, é Cristo mesmo que se comunica com o seu povo reunido. Não é um livro e não são palavras que se lêem, mas a Palavra viva (Cristo mesmo) que se anuncia como palavra de vida para todos. É o que nos ensina a Igreja; Veja a Constituição sobre a sagrada Liturgia n. 7 - "Para realizar tão grande obra, Cristo está sempre presente na sua igreja, especialmente nas acções litúrgicas.Está presente na sua palavra, pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura. Está presente, enfim, quando a Igreja reza e canta, Ele que prometeu: "Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles" (Mt. 18,20)" -  e n. 33 - Embora a sagrada Liturgia seja principalmente culto da majestade divina, é também abundante fonte de instrução para o povo fiel. Efectivamente, na Liturgia Deus fala ao Seu povo, e Cristo continua a anunciar o Evangelho. Por seu lado, o povo responde a Deus com o canto e a oração -  do concílio Vaticano II, em 1963.
          Então eu pergunto: Quando você vai à missa ou mesmo numa celebração dominical da palavra, dá para sentir de fato que é Deus que está falando com o seu povo, quando se lêem as Escrituras? Ou tem alguma coisa (algum “ruído”) que atrapalha?... E olha! Você tem todo direito (e até obrigação!) se sentir Deus falando com você (veja o n. 14 da citada Constituição - É desejo ardente na mãe Igreja que todos os fiéis cheguem àquela plena, consciente e activa participação nas celebrações litúrgicas que a própria natureza da Liturgia exige e que é, por força do Batismo, um direito e um dever do povo cristão, "raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido" (1 Ped. 2,9; cfr. 2, 4-5))! Você está conseguindo desfrutar deste sagrado direito?

ALGUMAS RECOMENDAÇOES
            Pois bem, para que você possa, na missa, desfrutar do sagrado direito de sentir Cristo falando com você e com todo o seu povo, seguem aqui algumas recomendações para as equipes de liturgia, para os leitores, para os salmistas e para o padre:

  • PREPARA-SE COM ANTECEDÊNCIA
            - Quem vai ler (proclamar) deve preparar-se espiritualmente. Ler antes. Meditar. Orar em cima da Palavra. Deixar ela tomar conta de todo o seu ser (corpo, mente, coração, emoções). O leitor e a leitora devem ser os primeiros ouvintes da Palavra. Preparar-se também tecnicamente, através de ensaios, cursos e avaliações: é muito importante.
  • EVITAR O IMPROVISO
            - Atenção equipe de liturgia! Evitar pegar pessoas na última hora, para ler, em cima da hora, de improviso. Inclusive se recomenda que a leitura seja entregue pela equipe com bastante antecedência, para ser preparada com calma, até mesmo durante toda a semana.
  • LUGAR DA PROCLAMAÇÃO


            - Recomenda-se que a proclamação da Palavra seja feita de um lugar apropriado, só para ela: de uma estante especial, grande, bonita, distinta. Isso para enfatizar o “lugar”de onde Deus fala para o seu povo. Por isso, para dar distinção à Palavra, não usar este espaço para outra coisa. Comentários e avisos sejam feitos em outro lugar.
  • LIVRO DA PALAVRA
            - A Igreja orienta que as leituras sejam feitas diretamente do livro de leituras (chamado de Lecionário) Isso por causa da dignidade da Palavra de Deus. O folheto é um descartável. Hoje se usa e amanhã é jogado fora, vai para o lixo. A Palavra não é descartável. É eterna. É Cristo. Por isso, por ser eterna, convem que ela seja proclamada diretamente do livro (não descartável), e não do folheto. A dignidade da Palavra exige que se evite o “ruído” do uso de descartáveis para a sua proclamação.
  • OUVIR A PALAVRA
            Recomenda-se também que, ao ouvir a Palavra (seja nas leituras e no canto do salmo, como, sobretudo na proclamação do Evangelho), o povo não fique acompanhando pelo folheto. A Palavra é para ser “ouvida”! Deus fala e você ouve... Quando alguém fala com você (ainda mais quando é Deus que fala), você fica de olho grudado no jornal? Evidente que não! É questão até de educação. Seja bem educado(a)! Quando Deus fala para você, desgrude o olho do jornal. Apenas olhe para a frente (para o leitor ou a leitora) e escute, “ouça”o que o Senhor diz! O ideal seria que os folhetos nem trouxessem os textos das leituras, do salmo e do evangelho. Exatamente para ajudar o povo a exercer o seu sagrado direito de realmente sentir Deus falando.
  • PROCLAMAR
            Quem proclama a Palavra, ao fazer as leituras, facão com voz clara (para todos ouvirem), devagar, pausadamente, respeitando as pontuações e, sobretudo, ler com espiritualidade vivenciando o que lê, evite-se o “ruído” da leitura rápida demais, em voz baixa, sem pontuação e, sobretudo, sem espiritualidade.
  • POSTURA
            - A dignidade da Palavra de Deus exige também, da parte de quem lê, uma postura digna. O leitor (ou a leitora) fique apoiado (a) sobre os dois pés, exatamente para expressar  a firmeza desta rocha que é a Palavra. Por isso, evite-se o “ruído” de permanecer apoiado (a) sobre um pé só ao ler, olhar com carinho para os ouvintes, como Deus olha para seu povo. No olhar de quem lê, os ouvintes querem sentir o olhar de Deus. Evite-se, portanto, o “ruído” de ficar com o olhar preso no livro. E, mais: em muitas comunidades no Brasil, quem vai fazer a leitura coloca uma veste própria para o exercício deste ministério.
  • OS TITULOS
            - Não ler os títulos orientativos, tais com: “Primeira leitura”, “Segunda leitura”, “Salmo responsorial”, Evangelho”. Isso não é Palavra de Deus. São apenas títulos orientativos para não se perder. Quando estes títulos são lidos, quebra-se o ritmo e a harmonia da escuta da Palavra. Evite-se também estes “ruídos”.
  • O NOME DA PESSOA QUE VAI LER
            - Nunca se diga o nome da pessoa que vai fazer a leitura. Dizer o nome da pessoa, no caso, significa “roubar a cena” da Palavra. Toda a atenção tem que estar centrada na Palavra. E dize o nome de quem vai ler é um “ruído” a mais que distrai.
  • PALAVRA DO SENHOR, DA SALVAÇÃO
            - Quando termina a leitura, diga-se “Palavra do Senhor” ou “Palavra da Salvação” (no caso do Evangelho), no singular. Por que? Porque é Cristo-Palavra que foi proclamado. Por isso, evite-se o ruído de dizer “Palavras do Senhor” ou “Palavras da Salvação” (no plural). Pois não são palavra lidas, mas é “a Palavra” que é proclamada. Outra coisa: faça-se uma pequena pausa antes de dizer “Palavra do Senhor” ou “Palavra da Salvação”. Isso ajuda a vivenciar melhor o que foi ouvido.
            São algumas recomendações úteis, para que o povo possa viver mais plenamente o seu sagrado direito (e obrigação) de sentir Deus falando, quando se lêem as Escrituras na missa. Queira Deus que isso aconteça em nossas comunidades. Afinal, é o sagrado sonho do Concílio Vaticano II, que mais de 40 anos já passaram.
Frei José Ariovaldo da Silva , OFM

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Solenidade de Cristo Rei

No último domingo do Tempo Comum, celebramos a solenidade de Cristo Rei do Universo. Uma solenidade é uma grande festa, na qual celebramos uma grande verdade da fé. Essa solenidade é a coroação de todo o ciclo da liturgia eclesiástica, porque na figura de Cristo Rei, se resume toda a obra salvadora do Messias. Ele é o alfa e o ômega, o princípio e o fim, o seu Reino é o Reino da verdade e da vida, da santidade e da graça, da justiça, do amor e da paz.
Nesse dia encerramos o ano litúrgico e começamos o tempo advento. A Igreja convida-nos a concentrar nossa mente e coração nesse fundamento de nossa fé; Jesus Cristo, Rei e Senhor de nossas vidas.

Instituição
A solenidade dedicada a Cristo Rei começou a ser celebrada em 1925, onde estávamos sob o contexto de outra guerra, a segunda guerra mundial, que custaria 26 milhões de vidas. Naquela hora de dor o Papa Pio XI fez ouvir a sua voz e gritou: "A paz de Cristo, pelo reinado de Cristo!". E com a encíclica chamada "Quas Primas", o Papa instituía a Festa de Cristo Rei.

Pio XI insistia na necessidade de reconhecer a autoridade universal de Cristo, porque a sua aceitação faria desaparecer as divisões de pessoas, classes sociais, povos e nações, que acabaria com o ódio, as injustiças e toda a escravidão.
Muitas pessoas pensavam que já não havia espaço para Deus no coração do homem. O Santo Padre lembrou que Cristo está presente no coração de cada ser humano e que somente Ele tem o verdadeiro poder sobre a sociedade, a família, a cultura e todo o Universo. Quis comemorar a realeza de Jesus num momento em que a sociedade abandonava a fé e o ateísmo se propagava no mundo inteiro.

Assim concluía o Papa: “é necessário que Cristo reine na mente dos homens, é necessário que Cristo reine na vontade dos homens, é necessário que reine nos corações dos homens, por um ardente amor a Ele; e é necessário que Cristo reine em nossos corpos e em nossos membros para que sirvam à paz externa da sociedade e à paz interna de nossas almas”.
Mas não é só nessa ocasião que comemoramos Cristo como nosso Rei. Em cada Missa, fazemos memória de seu Reino em pelo menos dois momentos especiais.
São eles:
  • Depois da consagração, quando rezamos o Pai-Nosso: “Venha a nós o vosso Reino!”
  • Em seguida quando proclamamos: “Vosso é o reino, o poder e a glória para sempre”.
E então, o que é esse Reino que celebramos hoje e em cada Missa do ano?
O Catecismo da Igreja Católica nos dá algumas dicas sobre isso:

·         O Reino de Cristo é a sua Igreja. Cada cristão é um membro vivo da Igreja e por isso torna presente esse Reino no mundo. Cada sacerdote, cada bispo, cada fiel é um sinal luminoso de Cristo Rei.
·         É onde Deus, aqui e agora, partilha sua vida divina com os homens. Nesse Reino recebemos a vida de verdade, não a vida do mundo que é passageira.
·         O Reino é a família de Deus, na qual todos os homens são chamados a fazer parte, sejam eles ricos ou pobres, santos ou pecadores.
·         Esse Reino é a vitória de Cristo sobre o reino de Satanás. É vitória sobre o sofrimento, a morte, a maldade, a injustiça e o pecado.
Uma maneira bem concreta para manifestar a presença desse Reino em nossas vidas é oferecer por meio da oração as diferentes atividades do dia. Por exemplo, podemos rezar um Pai-Nosso antes de iniciar as aulas no colégio ou quando chegamos no escritório para trabalhar.
Por isso o Papa Pio XI instituiu essa festa dedicada a Cristo Rei. O Reino de Cristo é realidade e nós cristãos somos parte dessa realidade. Nós católicos já experimentamos os frutos desse Reino em primeira mão. Ele não é um sonho ou um ideal distante. O Reinado de Jesus cresce todos os dias em nossa vida e na vida da sociedade.

Na bíblia
“Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus”, foi a inscrição que Pilatos mandou pôr sobre sua cabeça quando foi sentenciado à morte. Desde esse dia milhares de pessoas no mundo olham a cruz com devoção e fé.
Quando Jesus respondeu a Pilatos: “Tu o dizes, sou Rei”, matizou sua afirmação e continuou: “Eu para isso nasci; para isso vim ao mundo, para dar testemunho da Verdade. Todo o que é da verdade ouve minha voz...” Essa é a Verdade de Deus, uma verdade eterna.
Passaram já vinte e um séculos de História e, no entanto por esse Rei sentenciado à morte somos hoje como uma coroa humana de corações em louvor, em admiração, em obediência e em fervor para Cristo Rei, nosso Rei!
Sendo Jesus o Rei de toda a criação, da história do homem, sua realeza é universal. Por isso não podemos levá-lo em nível de ideologia humana, partidária, triunfalista. Seu reino chega justamente à consciência do homem para fazê-lo livre e mais apto para exercer sua propriedade sobre o mundo.
O Reino de Jesus Cristo é de misericórdia, de bondade, de amor. Ele é um Rei cheio de mansidão, pacífico, que derrama sua influência benéfica sobre as pessoas, pela fé. O prefácio da missa de Cristo Rei faz um belo resumo com estas frases:
“Um reino universal e eterno. Um reino de verdade e de vida. Um reino de santidade e de graça. Um reino de justiça, amor e paz”.
Ele começar a reinar em nossos corações no momento em que nós permitimos isto a Ele, e o Reino de Deus deste modo faz-se presente em nossas casas, famílias, comunidade e, principalmente, na nossa vida.
Nós cristãos, com nosso testemunho, temos que trabalhar para que em nossa sociedade o reino de Jesus seja a história da verdade sobre o erro, da pureza sobre a corrupção, da vida sobre a morte.
Dedicar a nossa vida a expandir o Reino de Cristo na terra é o melhor que podemos fazer, pois Cristo nos recompensará com alegria e uma paz profunda em todas as circunstancias da vida.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

JOÃO BATISTA, “MAIS QUE UM PROFETA”

Partindo do texto de Hebreus 1,1-3, - 1 Nos tempos antigos, muitas vezes e de muitos modos Deus falou aos antepassados por meio dos profetas. 2 No período final em que estamos, falou a nós por meio do Filho. Deus o constituiu herdeiro de todas as coisas e, por meio dele, também criou os mundos. 3 O Filho é a irradiação da sua glória e nele Deus se expressou tal como é em si mesmo. O Filho, por sua palavra poderosa, é aquele que mantém o universo. Depois de realizar a purificação dos pecados, sentou-se à direita da Majestade de Deus nas alturas. - procuramos traçar a imagem de Jesus segundo uma comparação com os profetas. Entre o tempo dos profetas e o de Jesus existe uma figura especial que é ponte entre os primeiros e o segundo: João Batista. Nada melhor, no Novo Testamento, para evidenciar a novidade de Cristo, que a comparação com João Batista.

            O tema do cumprimento, da mudança histórica, emerge nítido dos textos nos quais o próprio Jesus se expressa sobre sua relação com o Precursor. Atualmente os estudiosos reconhecem que as passagens que se leem a respeito nos evangelhos não são invenções ou adaptações apologéticas da comunidade, posteriores à Páscoa, mas se remontam na substância ao Jesus histórico. Alguns deles são, de fato, inexplicáveis se são atribuídos à comunidade cristã posterior.
            Uma reflexão sobre Jesus e João Batista é também a melhor forma de estar em sintonia com a liturgia do Advento. As leituras do Evangelho do segundo e do terceiro domingo do Advento têm, de fato, no centro a figura e a mensagem do Precursor. Há uma progressão no Advento: na primeira semana a voz sobressalente é a do profeta Isaías, que anuncia o Messias de longe; na segunda e terceira semana é a do Batista, que anuncia o Cristo presente; na última semana, o profeta e o Precursor deixam o lugar para a Mãe, que o leva em seu seio.

A grande mudança

            Em texto mais completo no qual Jesus se expressa sobre sua relação com João Batista é a passagem do Evangelho que a liturgia nos faz ler no 3º domingo (Ano A) na Missa. João, desde a prisão, envia seus discípulos para perguntar a Jesus: “És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?” (Mt 11,2-6; Lc 7,19-23).
            A pregação do Mestre de Nazaré, a quem ele mesmo havia batizado e apresentado a Israel, parece a João que vai em uma direção diferente da reluzente que ele esperava. Mais que o juízo eminente de Deus, ele pregava a misericórdia presente, oferecida a todos, justos e pecadores.
            O mais significativo de todo o texto é o elogio que Jesus faz a João Batista, após ter respondido à sua pergunta: “O que fostes ver, então? Um profeta? Sim, eu vos digo, e mais do que um profeta [...]. Em verdade vos digo que, entre os nascidos de mulher, não surgiu nenhum maior do que João, o Batista, e, no entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele. Desde os dias de João Batista até agora, o Reino dos Céus sofre violência, e violentos se apoderam dele. Porque todos os profetas bem como a Lei profetizaram, até João. E, se quiserdes dar crédito, ele é o Elias que deve vir. Que tem ouvidos, ouça!” (Mt 11, 9-15).
            Uma coisa se vê clara destas palavras: entre a missão de João Batista e a de Jesus ocorreu algo decisivo, que constitui uma divisória entre duas épocas. O centro de gravidade da história se deslocou: o mais importante já não está em um futuro mais ou menos iminente, mas está “aqui e agora”, no reino que já está operante na pessoa de Cristo. Entre as duas pregações, suscitou um salto de qualidade: o menor da nova ordem é superior ao maior da ordem precedente.
            Este tema do cumprimento e de mudança de época encontra confirmação em muitos outros contextos do Evangelho. Basta recordar algumas palavras de Jesus como: “Aqui há alguém maior que Jonas [...]. Aqui há alguém maior que Salomão!” (Mt 12,41-42). “Felizes os vossos olhos, porque veem, e vossos ouvidos, porque ouvem! Em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, mas não o viram, e ouvir o que vós ouvis, mas não o ouviram” (Mt 13,16-17). Todas as chamadas “parábolas do Reino” — como a do tesouro escondido e a da pérola preciosa — expressam, de maneira cada vez diferente e nova, a mesma ideia de fundo: com Jesus soou a hora decisiva da história: ante ele se impõe a decisão da qual depende a salvação.
            João pertence às “premissas” e à preparação, mas com Jesus já estamos no tempo do cumprimento.
            Em seu livro “Jesus de Nazaré”, o Santo Padre confirma a conquista da exegese mais séria e atualizada. Escreve: “Para que se chegasse a esse confronto radical, de ser concebido até este extremo — de ser entregue aos romanos –, deve ter acontecido, deve ter sido dito algo dramático. O estimulante e o grandioso encontram-se precisamente no princípio; a Igreja em formação só lentamente é que devia reconhecê-los em toda a sua grandeza, gradualmente compreendê-los por meio de uma reflexão que ia se constituindo numa interior ‘recordação’. (...) O grandioso, o novo e estimulante têm sua origem precisamente em Jesus; na fé e na vida da comunidade isso é desenvolvido, mas não criado. Sim, a ‘comunidade’ não teria de modo nenhum se formada nem sobrevivido se uma realidade extraordinária não a precedesse”.
            Na teologia de Lucas, é evidente que Jesus ocupa “o centro do tempo”. Com sua vinda, ele dividiu a historia em duas partes, criando um “antes” e um “depois” absolutos. Hoje se está convertendo em prática comum, especialmente na imprensa leiga, abandonar o modo tradicional de datar os acontecimentos “antes de Cristo” ou “depois de Cristo” (ante Christum natum e post Christum natum) a favor da fórmula mais neutra “antes da era comum” e “da era comum”. É uma opção motivada pelo desejo de não irritar a sensibilidade de povos de outras religiões que utilizam a cronologia cristã. Em tal sentido, é preciso respeitá-la, mas para os cristãos permanece indiscutível o papel “discriminante” da vinda de Cristo para a história religiosa da humanidade.

Ele vos batizará no Espírito Santo


            Agora, como sempre, partamos da certeza exegética e teológica evidenciada para chegar ao hoje de nossa vida.
            A comparação entre João Batista e Jesus se cristaliza no Novo Testamento na comparação entre o batismo de água e o batismo do Espírito. “Eu vos batizei com água, mas ele vos batizará com o Espírito Santo” (Mc 1,8; Mt 3,11; Lc 3,16). “Eu não o conhecia — diz João Batista no Evangelho de João –, mas aquele que me enviou para batizar com água, disse-me: ‘Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer é o que batiza com o Espírito Santo’” (Jo 1,33). E Pedro, na casa de Cornélio: “Lembrei-me, então, desta palavra do Senhor: ‘João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo’” (At 11,16).
            O que quer dizer que Jesus é aquele que batiza no Espírito Santo? A expressão não só serve para distinguir o batismo de Jesus daquele de João; serve para distinguir toda a pessoa e obra de Cristo com relação à do Precursor. Em outras palavras, em toda sua obra, Jesus é aquele que batiza no Espírito Santo. Batizar aqui tem um significado metafórico: quer dizer inundar, envolver por todas as partes, como faz a água com os corpos submersos nela.
            Jesus “batiza no Espírito Santo” no sentido de que recebe e dá o Espírito “sem medida” (Jo 3,34), “infunde” seu Espírito (At 2,3) sobre toda a humanidade redimida. A expressão se refere mais ao acontecimento de Pentecostes que ao sacramento do batismo. “João batizou com água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo dentro de poucos dias” (Atos 1, 5), diz Jesus aos apóstolos, referindo-se evidentemente a Pentecostes, que aconteceria em breve.
            A expressão “batizar no Espírito” define, portanto, a obra essencial do Messias, que já nos profetas do Antigo Testamento aparece orientada a regenerar a humanidade mediante uma grande e universal efusão do Espírito de Deus (Jl 3, 1ss.). Aplicando tudo isso à vida e ao tempo da Igreja, devemos concluir que Jesus ressuscitado não batiza no Espírito Santo unicamente no sacramento do batismo, mas, de maneira diferente, também em outros momentos: na Eucaristia, na escuta da Palavra e, em geral, em todos os meios de graça.
            Santo Tomás de Aquino escreve: “Existe uma missão invisível do Espírito cada vez que se realiza um progresso na virtude ou um aumento de graça...; quando alguém passa a uma nova atividade ou a um novo estado de graça”. A própria liturgia da Igreja o inculca. Todas suas orações e seus hinos ao Espírito Santo começam com o grito: “Vinde!”: “Vinde, Espírito Criador”, “Vinde, Espírito Santo”. Contudo, quem assim reza já recebeu o Espírito uma vez. Quer dizer que o Espírito é algo que recebemos e que devemos receber sempre de novo.

A nova profecia de João Batista

            João Batista, pode nos iluminar sobre como levar a cabo nossa tarefa profética no mundo de hoje. Jesus define João Batista como “mais que um profeta”, mas onde está a profecia em seu caso? Os profetas anunciavam uma salvação futura; mas o Precursor não é alguém que anuncia uma salvação futura; ele indica alguém que está presente. Então, em que sentido pode-se chamar profeta? Isaías, Jeremias, Ezequiel ajudavam o povo a superar a barreira do tempo; João Batista ajuda o povo a superar a barreira, ainda mais grossa, das aparências contrárias, do escândalo, da banalidade e da pobreza com que a hora fatídica se manifesta.
            É fácil crer em algo grandioso, divino, quando se estabelece em um futuro indefinido: “naqueles dias”, “nos últimos dias”, em um contexto cósmico, com os céus destilando doçura e a terra abrindo-se para que germine o Salvador. É mais difícil quando se deve dizer: “Está aqui! É ele!”
            Com as palavras: “Em meio de vós há alguém a quem não conheceis!” (Jo 1,26), João Batista inaugurou a nova profecia, a do tempo da Igreja, que não consiste em anunciar uma salvação futura ou distante, mas em revelar a presença escondida de Cristo no mundo. Em arrancar o véu dos olhos das pessoas, sacudir a indiferença, repetindo com Isaías: “Existe algo novo: já está a caminho; não o reconheceis?” (Is 43,19).
            “O testemunho de Jesus — lê-se no Apocalipse — é o espírito de profecia” (Ap 19,10), isto é, para dar testemunho de Jesus, requer-se espírito de profecia. Existe este espírito de profecia na Igreja? Cultiva-se? Alimenta-se? Ou se crê, tacitamente, que se pode prescindir dele, apontando mais para meios e recursos humanos?
            João Batista nos ensina que para sermos profetas não necessitamos de uma grande doutrina ou eloquência. Ele não é um grande teólogo, tem uma cristologia bastante pobre e rudimentar. Não conhece ainda os títulos mais elevados de Jesus: Filho de Deus, Verbo, nem sequer o de Filho do homem. Mas como consegue fazer ouvir a grandeza e unicidade de Cristo! Usa imagens simples, de um camponês: “Não sou digno de amarrar as suas sandálias”. O mundo e a humanidade aparecem, por suas palavras, dentro de uma peneira que ele, o Messias, sustenta e agita com suas mãos. Perante ele se decide quem permanece e quem cai, quem é grão bom e quem é palha que o vento leva.

Pe. Raniero Cantalamessa, OFM