É interessante o modo como
algumas coisas passam despercebidas em nossa vida. É preciso, às vezes, nos
colocarmos do lado de fora de uma situação para podermos ver e ouvir com mais
clareza o que do lado de dentro não é possível.
Certo dia, em uma missa
festiva, ouvi um jovem dizer: “Que se
aproxime do altar apenas as pessoas que estiverem preparadas para receber a
comunhão”. Por muitas vezes eu já havia ouvido esse tipo de recomendação,
porém nunca havia pensado no quanto ela é excludente e imprópria para uma Celebração
Eucarística. Por muito tempo também havia ouvido o canto, que se seguiu após o
pronunciamento do jovem, cujo refrão dizia “Só
tem lugar nesta mesa pra quem ama e pede perdão. Só comunga nesta ceia quem comunga
na vida do irmão”. Porém, nunca havia percebido que a letra dessa música proporciona-nos
saber a nossa localização no Reino que tanto buscamos.
O breve comentário
feito pelo rapaz – que por sua vez aparentou nunca ter refletido sobre o peso de suas palavras –
naquela ocasião em especial, juntamente com a reflexão sobre a canção entoada
no mesmo dia, fez-me refletir sobre o que é estar preparado para comungar. Mas,
afinal, o que é e quem está preparado?
De
acordo com o Catecismo da Igreja Católica, pode comungar quem estiver plenamente
incorporado à Igreja e em estado de graça, além de possuir o espírito de
recolhimento e de oração, a observância do jejum prescrito pela Igreja e ainda
a atitude corporal (gestos, trajes) como sinal de respeito para com Cristo.
(CIC, 1385–1389; 1415). É aí que está o problema. Se todos os cristão católicos
seguissem a risca o que diz o Catecismo teríamos dois caminhos: 1) as pessoas
não católicas nos teriam como exemplo de fraternidade e caridade, sendo o mundo
bem melhor (não estou colocando a culpa do que acontece em nosso planeta sobre
os católicos); ou 2) as empresas que fornecem hóstias fechariam por falta de consumidor.
Parece
exagero de minha parte, e talvez seja. Porém, o que disse o jovem rapaz antes
do Rito da Comunhão pode soar de forma equivocada para uma pessoa que pela
primeira vez sentiu-se chamada a participar da Santa Missa. Talvez, uma pessoa
que nunca teve a oportunidade de frequentar um encontro de catequese, ou que
por vários motivos nunca teve a chance de participar de uma Celebração, possa
está mais bem preparada do que aquele (músico, cantor, leitor, ministro da
Eucaristia e até sacerdote) que está a “serviço do altar” apenas para se
mostrar para os outros e se esquecem do que diz o Nosso Senhor: “Por esse
motivo, quem comer do pão ou beber do cálice do Senhor indignamente será
culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor. Examine, pois, cada um a
si próprio, e dessa maneira coma do pão e beba do cálice. Pois quem come e bebe
sem ter consciência do corpo do Senhor, come e bebe para sua própria condenação”.
(1 Cor 11, 27-29).
A
resposta à pergunta “Quem pode comungar?”
vem do simples refrão da música que foi mencionada acima “quem
ama e pede perdão”. O amor e o perdão só vêm de quem possui
humildade e vontade de ser bom, de ser santo; é dessa forma que teremos nosso
lugar na Ceia do Senhor. Só Deus pode julgar quem é ou não digno de recebê-lo. Só
a consciência de cada ser humano é capaz de fazê-lo se aproximar ou não do
Santo Altar. O lugar para se orientar os cristãos sobre a comunhão e o que diz
a igreja sobre ela é na catequese, e não na Missa da forma como o foi.