sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Advento, tempo de esperança

            Quando vivemos este tempo forte da Igreja, o advento, nossa atitude só pode ser de esperança. É claro que quando olhamos o mundo tão ameaçado, tão destruído pelo egoísmo, pela falta de solidariedade e tantos outros males, a única presença que nos dá força é a presença do próprio Filho de Deus. O advento celebra a vinda de Jesus Cristo no tempo e na história dos homens, para trazer-lhes a salvação. É, portanto, o tempo de expectativa, e o cristão é chamado a vivê-lo em plenitude para poder receber dignamente o Senhor no momento em que vier.
            O advento se torna tempo de esperança porque para muitos, o nosso mundo vai ser sempre assim, “pobres sempre existiram e vão continuar a existir, também os explorados e os exploradores”. Mas tanto a ressurreição de Jesus como o seu nascimento nos mostram o contrário: a força e a presença de Deus no meio dos homens dão a possibilidade de mudar a história, de lutar para melhorar a história, para transformá-la em história da salvação, de vida para todos... Nenhum poder deste mundo, nenhum governo, nenhum grupo poderoso é eterno, por mais que se apresentem assim: todos poderão ser desbancados pelo poder do Reino de Deus que está crescendo no meio de nós. Celebrar o advento é celebrar a presença de Deus em nosso meio. A sua presença nos faz caminhar mais depressa em direção ao Reino. O advento nos leva a celebrar o “dia da visita de Deus”.
            Essa visita clareia a história, faz o cristão rever o seu papel na construção deste Reino. Pela nossa fé, acreditamos que o Senhor vem para governar a história. Ele vem para salvar o povo d escravidão do pecado. Com a morte de Cristo, aos olhos dos discípulos, parecia tudo perdido, a remissão de Israel não iria mais acontecer. Mas, a ressurreição, que é o advento de Jesus, mostra o sinal da esperança: Cristo assumiu o poder, iniciou o Reino de seu Pai que significa a vitória de Deus sobre todo o mal, a realização de suas promessas. Os primeiros cristãos esperavam que essa vitória se realizasse logo, a qualquer momento. Porém, aos poucos foram percebendo que essa vitória deveria acontecer em um tempo muito maior. O Reino já existe entre nós como uma realidade dinâmica. Deverá ir crescendo até atingir seu objetivo final. Nós, cristãos, em Igreja somos sacramento deste Reino, isto é, somos fazedores do Reino. Nas comunidades e através delas Cristo vem, estabelece seu Reino, convida as pessoas a participarem, a aderirem.
            O advento do Reino de Deus traz em si uma proposta radicalmente nova de relacionamentos entre os homens e os grupos humanos; traz em si uma crítica a muitos projetos e maneiras de se organizar a sociedade e a vida individual de cada um. Vivemos numa sociedade que só visa lucro, o poder, a dominação de alguns poucos sobre outros. A pessoa humana é reduzida a mercadoria. A injustiça se petrificou nas estruturas sócio-econômicas que a cada dia matam milhares de seres humanos. Uns têm tudo, outros não têm nem terra, nem trabalho, nem salário digno, nem casa, nem comida... Viver o advento significa, portanto, rever os nossos projetos, avaliá-los à luz da mensagem do Advento do Senhor, rever o rumo que estamos tomando em nossa vida individual, social e comunitária.
            O Senhor vem: vem assumindo o governo do mundo e de nossas vidas. Vem realizando a salvação, a cada dia, a cada momento da história, até que um dia o Reino estará plenamente estabelecido. O Senhor vem: cada celebração litúrgica é uma “visita” do Senhor, dia de sua vinda, principalmente quando celebramos a Eucaristia, proclamando sua vitória sobre todas as mortes da sociedade.
            O Advento faz-nos viver profundamente este aspecto da presença-ausência do Reino. Reaviva em nós a esperança de um futuro melhor dentro de um mundo que parece estar se suicidando. Reanima a nossa coragem: os nossos esforços por uma vida digna, por uma sociedade fraterna, não serão em vão. Reaviva o nosso amor. Alguém espera em nós no ponto de chegada e já faz presente como companheiro de caminhada: o Senhor Jesus.
            O Advento é tempo de esperança. No Espírito de Cristo, a comunhão definitiva com Deus Pai já está presente na história, embora de modo invisível e misterioso. Para o fiel, esperar não é somente ficar na expectativa de que alguma coisa aconteça; é compromisso, aqui e agora, na construção do Reino de deus. A esperança, “por um lado impele o cristão a não perder de visita a meta final que dá sentido e valor à sua existência inteira, e por outro lhe oferece motivações sólidas e profundas para o empenho cotidiano na transformação da realidade a fim de torná-la conforme ao projeto de Deus”. O motivo da esperança está intimamente ligado à espera jubilosa: “O Senhor está perto” (Fl 4, 4-5). O objetivo da esperança cristã é o próprio Cristo, o mistério escondido e ao mesmo tempo revelado: “Cristo em vós, esperança da glória” (Cl 1,27).

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