terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Você pode Comungar?

É interessante o modo como algumas coisas passam despercebidas em nossa vida. É preciso, às vezes, nos colocarmos do lado de fora de uma situação para podermos ver e ouvir com mais clareza o que do lado de dentro não é possível.
https://www.google.com.br/search?q=comunh%C3%A3o&biw=1366&bih=643&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=o-raVLblLNOIsQT7-oKAAQ&ved=0CAYQ_AUoAQ#tbm=isch&q=comunh%C3%A3o+eucaristica&revid=1003401630&imgdii=WtUmi2Wsxine2M%3A%3B9P32YGsDiQbhmM%3BWtUmi2Wsxine2M%3A&imgrc=WtUmi2Wsxine2M%253A%3BvGkC538ZuR55iM%3Bhttp%253A%252F%252F3.bp.blogspot.com%252F-KX5wvJXKbYM%252FUzXEh6jzGDI%252FAAAAAAAABrg%252FiY783cszQm4%252Fs1600%252Fcatequese-do-leigo-sacramento-da-eucaristia.png%3Bhttp%253A%252F%252Fwww.catequesedoleigo.com.br%252F2014%252F03%252Fcatequese-sacramento-da-eucaristia.html%3B1000%3B667

Certo dia, em uma missa festiva, ouvi um jovem dizer: “Que se aproxime do altar apenas as pessoas que estiverem preparadas para receber a comunhão”. Por muitas vezes eu já havia ouvido esse tipo de recomendação, porém nunca havia pensado no quanto ela é excludente e imprópria para uma Celebração Eucarística. Por muito tempo também havia ouvido o canto, que se seguiu após o pronunciamento do jovem, cujo refrão dizia “Só tem lugar nesta mesa pra quem ama e pede perdão. Só comunga nesta ceia quem comunga na vida do irmão”. Porém, nunca havia percebido que a letra dessa música proporciona-nos saber a nossa localização no Reino que tanto buscamos.
O breve comentário feito pelo rapaz – que por sua vez aparentou nunca ter refletido sobre o peso de suas palavras – naquela ocasião em especial, juntamente com a reflexão sobre a canção entoada no mesmo dia, fez-me refletir sobre o que é estar preparado para comungar. Mas, afinal, o que é e quem está preparado?
De acordo com o Catecismo da Igreja Católica, pode comungar quem estiver plenamente incorporado à Igreja e em estado de graça, além de possuir o espírito de recolhimento e de oração, a observância do jejum prescrito pela Igreja e ainda a atitude corporal (gestos, trajes) como sinal de respeito para com Cristo. (CIC, 1385–1389; 1415). É aí que está o problema. Se todos os cristão católicos seguissem a risca o que diz o Catecismo teríamos dois caminhos: 1) as pessoas não católicas nos teriam como exemplo de fraternidade e caridade, sendo o mundo bem melhor (não estou colocando a culpa do que acontece em nosso planeta sobre os católicos); ou 2) as empresas que fornecem hóstias fechariam por falta de consumidor.
Parece exagero de minha parte, e talvez seja. Porém, o que disse o jovem rapaz antes do Rito da Comunhão pode soar de forma equivocada para uma pessoa que pela primeira vez sentiu-se chamada a participar da Santa Missa. Talvez, uma pessoa que nunca teve a oportunidade de frequentar um encontro de catequese, ou que por vários motivos nunca teve a chance de participar de uma Celebração, possa está mais bem preparada do que aquele (músico, cantor, leitor, ministro da Eucaristia e até sacerdote) que está a “serviço do altar” apenas para se mostrar para os outros e se esquecem do que diz o Nosso Senhor: “Por esse motivo, quem comer do pão ou beber do cálice do Senhor indignamente será culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor. Examine, pois, cada um a si próprio, e dessa maneira coma do pão e beba do cálice. Pois quem come e bebe sem ter consciência do corpo do Senhor, come e bebe para sua própria condenação”. (1 Cor 11, 27-29).

A resposta à pergunta “Quem pode comungar?” vem do simples refrão da música que foi mencionada acima quem ama e pede perdão”. O amor e o perdão só vêm de quem possui humildade e vontade de ser bom, de ser santo; é dessa forma que teremos nosso lugar na Ceia do Senhor. Só Deus pode julgar quem é ou não digno de recebê-lo. Só a consciência de cada ser humano é capaz de fazê-lo se aproximar ou não do Santo Altar. O lugar para se orientar os cristãos sobre a comunhão e o que diz a igreja sobre ela é na catequese, e não na Missa da forma como o foi.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Caminho para a Páscoa

A grande meta da quaresma é a Páscoa - festa central do cristianismo, ponto alto do ano litúrgico. Neste tempo assumimos percorrer com Jesus, o caminho da provação e da cruz e vamos recebendo a força e a alegria do seu Espírito para proclamarmos a vitória da vida, enquanto lutamos contra todas as forças de violência, de injustiça e morte que, dolorosamente persistem no mundo. Cada celebração deve ser uma forte experiência desta caminhada pascal, para que possamos fazer de nossa vida uma páscoa contínua.

1. Caminhada catecumenal: A quaresma é, por excelência, um tempo batismal. A liturgia da Palavra da quaresma do Ano A constitui-se num valioso itinerário de fé e adesão crescente, consciente e livre, ao projeto de Jesus. Nos dois primeiros domingos, a liturgia apresenta Jesus como àquele que vence o mal, e por isso é glorificado por Deus no Tabor, antes mesmo de Ele enfrentar a "hora das trevas" e, nos outros domingos, as grandes "catequeses batismais" de João ( cap.4, 9 e 11). As primeiras leituras, com textos do AT narram fatos significativos da História da Salvação (pecado de Adão, vocação de Abraão, Moisés e a água da rocha, Davi e a visão dos ossos em Ezequiel) e formam um todo catequético em sintonia com os evangelhos. Com textos de grande valor teológico das cartas de Paulo, as segundas leituras também apresentam certa ligação com as primeiras leituras e os evangelhos. Nossa vida torna-se, então, uma oferta de louvor, um sacrifício espiritual que apresentamos continuamente ao Pai, em união com Jesus, o servo pobre e sofredor. E, assim, por ele, com ele e nele o Pai seja louvado e glorificado.

2. Caminhada de conversão: Mais do que uma simples preparação da Páscoa, a quaresma constitui um ensaio da vida nova no Espírito:
·         Tempo de romper com todas as expressões de mal que existem em nós, sepultando o "homem velho";
·         Tempo de abrir-nos à Vida sempre nova que brota da Cruz;
·         Tempo de tornar-nos uma nova criatura, revestindo-nos de Jesus Cristo;
·         Tempo de converter-nos ao projeto de Deus, ouvindo e acolhendo sua Palavra, que nos propõe "buscar primeiro o Reino de Deus e a sua justiça"(Mt 6,33);
·         Tempo de renovar e reavivar a opção de nossa fé feita em nosso batismo, no desejo de um novo recomeço no seguimento como discípulos do Senhor. Dedicando mais tempo e densidade à oração tanto pessoal quanto comunitária fortalecendo as razões de nossa esperança;
Tomando uma atitude contra o consumismo, assumimos o jejum do autodomínio sobre nossa alimentação, nossas palavras, nossos sentimentos. E, sobretudo, com a prática do jejum verdadeiro, ou seja, a prática da justiça e da misericórdia, base da verdadeira oração, retomamos o compromisso de "volta ao primeiro amor" (Ap 2,4), na relação de aliança com Deus.

3. Conversão para a fraternidade: Como passo fundamental na caminhada pascal, a dimensão comunitária da quaresma é assumida por nós pela Campanha da Fraternidade: que sempre nos pede conversão e solidariedade em situações bem concretas de nossa realidade. " A solidariedade é para os povos o que a ternura é para as pessoas" ( D. Pedro Casaldáliga).
Padre Gian Luigi Morgano

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Tempo Comum

ILUMINADOS PELA PALAVRA
            O início do Tempo Comum acontece com a apresentação de Jesus Cristo como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Evangelho). Apresentação que dá continuidade ao contexto da Epifania, da manifestação de Jesus Cristo ao mundo. É também continuidade do episódio batismal, ressaltando o testemunho de João Batista de que Jesus é o Filho de Deus, o enviado de Deus para salvar o mundo inteiro (Evangelho). A Palavra deste 2º Domingo, no entanto, concentra-se no contexto da Salvação universal realizada por Jesus, oferecendo-se como sacrifício para fazer a vontade do Pai (salmo responsorial). Ele é o servo profetizado por Isaías que levará a Salvação divina aos confins da terra (1ª leitura) e aquele que tira o pecado do mundo (Evangelho). Ainda no contexto da Salvação universal, Paulo dirige sua carta a quem é convocado à santidade em todas as partes do mundo (2ª leitura).
            Na Bíblia, encontramos uma corrente teológica que considerava a Salvação restrita ao povo hebreu e a entendia como a reunificação de Israel. Embora presente em Isaías — “que eu recupere Jacó para ele e faça Israel unir-se a ele”
(1ª leitura)— a mesma profecia evidencia que a missão salvadora do servo é a de se tornar luz para todos os povos da terra (1ª leitura). Jesus é este servo, aquele que recebeu e assumiu a responsabilidade de realizar o projeto salvador no mundo (salmo responsorial) para todos os povos. João Batista dá testemunho dessa realidade (Evangelho).
            O termo “testemunho” ou “testemunha” significa originalmente “alguém que viu” ou então, “alguém que fala daquilo que viu”. O Evangelho deste Domingo não diz que João Batista refere-se a Jesus como alguém que foi batizado por ele, mas que viu o Espírito Santo pousando sobre ele e consagrando-o
(Evangelho). Fato que provoca mudança no conceito de Batismo. Não mais um rito de purificação exterior e interior, como diziam os essênios, nem só purificação do coração, como pregava João Batista, mas o Batismo como relação pessoal com o Espírito de Deus. A diferença está na presença ativa do Espírito Santo que, no Batismo, pousa sobre quem é batizado.
            É a partir da experiência do Batismo de Jesus, que todos os batizados participam da filiação divina. Jesus é o Filho de Deus, mas não só. É também testemunhado por João Batista como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Evangelho) e, enquanto tal é o Salvador, o servo que ilumina o mundo com sua Salvação (1ª leitura). Ao apontar Jesus como Cordeiro de Deus, João Batista evoca nos ouvintes o significado do Cordeiro Pascal para o povo de Israel, que com seu sangue, tingido nas portas dos hebreus, libertou e salvou o povo da escravidão do Egito. Participar da Salvação, diz São Paulo, é participar da Páscoa de Jesus Cristo (Rm 6) que, ao se fazer (com seu sangue) sacrifício para realizar a vontade do Pai (salmo responsorial), nos liberta da morte, nos salva e nos torna filhos e filhas de Deus.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

PREPARANDO O NATAL DO SENHOR

O que é Advento?

 

            O que significa a palavra “advento”? É a tradução do latim “adventus”. Antes de ser usada no cristianismo, podia significar duas coisas. Primeiro, acreditava-se que a divindade vinha a seu templo uma vez por ano, num dia fixo, para visitar seus fiéis durante o culto e trazer-lhes salvação. Este dia era chamado “adventus”, o dia da vinda. Muitos templos só abriam suas portas naquele dia. Também a primeira visita de uma pessoa importante, principalmente para tomar posse e assumir o governo ou algum outro cargo importante, era chamada de “adventus” ou, em grego, “parusia” ou “epifania” (manifestação).

O dia da visita de Deus
            Mas de que modo devemos, então, entender “advento” no sentido cristão? O Antigo Testamento fala inúmeras vezes das visitas ou vindas de Javé a seu povo para realizar suas promessas (P.ex. Gênesis 50, 24s; Jeremias 29,10; Zacarias 10,3 etc.) ou para castigar a infidelidade de seu povo e, assim, ainda assegurar a salvação dele (Amos 3,2; Oséias 4,9; Isaías 10,3 etc.). Este dia da visita é também chamado “Dia de Javé” ou “Dia do Senhor”. Principalmente após o exílio, aguardava-se uma visita espetacular, uma intervenção definitiva de Javé para salvar seu povo e submeter todas as nações, no “fim dos Tempos”, estabelecendo assim o reino definitivo de Deus (Sabedoria 3,7; Eclesiástico 2,14 etc.)

Jesus veio

            O Novo Testamento diz que Deus realizou esta visita na pessoa de Jesus de Nazaré. (Lc 2,30-31) Simeão recebe o Menino: “Meus olhos já viram a salvação que preparaste diante de todos os povos”. Os discípulos de Jesus tinham certeza de que ele iria inaugurar o reino definitivo de Deus. Assustaram-se com sua morte: “Nós esperávamos que ele fosse redimir Israel...” mas... “nossos sumos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte” (Lc 24,20-21). Depois começaram a entender o sentido da morte e da cruz.

Advento não é tempo penitencial

            Embora o Advento insista em nossa conversão, não tem mais aquele caráter penitencial de antes da reforma Litúrgica. A conversão consiste em prepararmos, alegres e ligeiros, cheios de esperança, o caminho do Senhor que vem. Por isso o roxo não seria a cor do advento já que esta indica mais a penitencia (estamos procurando colocar o lilás), o silêncio dos instrumentos musicais quando não acompanham o canto, a falta do glória, a ausência de flores... De qualquer modo, é bom que o Advento, sendo temo de preparação, tenha um tom mais discreto, para que a alegria seja maior na festa do Natal.

CELEBRANDO O ADVENTO


            O Senhor Jesus, ao partir deste mundo para o Pai, ordenou que vigiássemos e esperássemos em sua promessa. Se toda vida cristã é a espera vigilante de sua firme manifestação – e a cada dia suplicamos na oração do Senhor “Venha o teu Reino!” -, a Igreja nos oferece um tempo próprio para cumprir esta palavra do Cristo, nutrir a esperança de sua nova vinda e preparar o seu novo Natal.
            A espera e o desejo constituem, sem dúvida, a experiências humanas significativa que, assumidas no advento, nos ajudam a participar mais plenamente do mistério pascal do Cristo. Tal como a noiva vai ao encontro do seu bem-amado, a terra se abre à semente, a sentinela espera o dia chegar, as comunidades cristãs celebram esta páscoa do advento, acolhendo a bênção do alto que nos transtorna e renova, começando uma etapa nova, um novo ano litúrgico.
            “Aparecido como por um instante em nosso meio, o Messias se deixou tocar e ver solenemente para perder-se de novo, mais luminoso e inefável que nunca, no abismo insondável do futuro. Veio. Mas agora temos que esperá-lo mais do que nunca, e já não apenas por um pequeno grupo de eleitos, mas por todos. O Senhor Jesus virá à medida que saibamos esperá-lo ardentemente. Há de ser um acúmulo de desejos que fará apressar o seu retorno”. (Pirre Teilhard de Chardin)

  O culto cristão é sempre celebração da vinda do Senhor. Entretanto, antes de celebrar o nascimento de Jesus Cristo, somos especialmente convidados a proclamar que o Senhor vem e a nos preparar para a sua vinda.
            Nas primeiras semanas do advento, vigilantes, esperamos a vinda gloriosa do Salvador, Jesus Cristo. Nas duas últimas, lembramos a esperança dos profetas e da santa Virgem Maria, preparamos mais especialmente o natal de Jesus.
            “O advento se apresenta como tempo de devota e jubilosa esperança.

O Advento dentro do Ano Litúrgico
            Costumamos dizer que o ano litúrgico começa com o primeiro domingo do Advento, assim como o ano civil começa em 1º de janeiro. Bem para falar a verdade, o ano litúrgico não tem começo nem fim. A cada ano voltam duas grandes festas: Páscoa e Natal. Páscoa é mais importante que o natal. É a maior festa cristã, porque celebra a ressurreição de Jesus. Cada festa é precedida por um tempo de preparação (Quaresma e Advento) e se prolonga em outros domingos e festas (tempo pascal e tempo de Natal). Entre estes dois tempos há trinta e quatro “domingos e semanas do tempo comum”, às vezes substituídos por algumas festas importantes: festa de São João, de São Pedro e São Paulo, da Assunção de Maria, de Todos os Santos, Finados etc.

Lembretes


Para celebrarmos profundamente o advento, é importante não esquecermos de alguns símbolos e cuidados:

  • A coroa do advento, com as suas velas que vão acendendo progressivamente, retomando o costume judaico de celebrar a vinda da luz na humanidade dispersa pelos quatro pontos cardeais, expressam a nossa prontidão e abertura ao salvador que vem.
  • A aclamação litúrgica “Vem, Senhor Jesus!” torna-se a grande súplica das comunidades, em sua prece, refrões e antífonas.
  • As Igrejas de rito latino deixam de cantar o glória para guardar as energias para a festa do Natal.
  • A própria comunidade reunida para a oração, a escuta da Palavra  e o louvor é sinal da espera da vinda do Senhor.
  • O livro sagrado recebe um cuidado especial – é enfeitado, aclamado, incensado -, como expressão da nossa vontade de acolher o verbo de Deus em nossa vida, como Maria.
  • A organização de uma celebração de reconciliação e de penitência ajuda as comunidades no caminho da conversão.
  • O diretório litúrgico indica o roxo como cor litúrgica, exceto no 3º domingo, para o qual propõe o rosado. Muitas comunidades estão o usando o rosado como cor litúrgica para todo o advento, para diferenciar do roxo da quaresma  e para significar a alegre espera que caracteriza a celebração deste tempo.
  • O 3º domingo é conhecido na tradição latina como o domingo Gaudete, palavra que significa “Alegrar-se” e que é o começo de uma antífona própria deste domingo: Alegrai-vos sempre no Senhor, alegrai-vos no Senhor. Alegrai-vos, alegrai-vos. Alegrai-vos no Senhor. Além da cor  rosado, as flores e instrumentos servem para fortalecer as comunidades na espera do novo Natal e intensificar os esforços de preparação da festa.
  • Dentro da mística da gravidez”, que nos faz crer na vida que vai nascer, pode ser assumido como gesto litúrgico a participação da mulher nos diversos serviços da celebração e a acolhida das mães gestantes por meio de algum serviço que elas exerças ou de uma bênção própria no final da celebração.
  •  É importante ajudar as comunidades a recuperarem os cantos do advento, deixando os cantos próprios de Natal só para a festa.

O caráter de vigilância e espera do advento é, no Brasil, vivenciado na novena do Natal. São orações em família, visita aos pobres, gestos de solidariedade com os mais pobres.

Sugestões para celebrar o Advento

Sendo o Advento o tempo litúrgico que abre o calendário da liturgia católica, nada mais adequado que iniciar um roteiro de dicas litúrgicas com esse tempo.
Em algumas postagens anteriores vimos o sentido do Advento. Vamos nos concentrar agora em sua celebração.
Primeiro, lembraremos algumas características gerais; em seguida, sugestões para a celebração.
Características das celebrações do Advento
- Usa-se a cor roxa para as vestes litúrgicas. No 3º domingo, a cor usada tradicionalmente é o cor-de-rosa, por ser o “domingo Gaudet”, referente à segunda leitura, na qual o apóstolo convida: Alegrem-se.
- O Advento é celebrado com sobriedade e com uma alegria discreta, quase contida. Por isso, não se canta o Gloria... (a não ser em algumas solenidades e festas, e m algumas celebrações especiais); fica reservado para a noite do e o dia do Natal, quando juntamos nossa voz à dos anjos para dar glória a Deus pela salvação que realiza em nosso meio. O Aleluia..., no entanto, continua ressoando.
- Pelo mesmo motivo da sobriedade, devemos usar flores e instrumentos com moderação, para não antecipar a plena alegria do Natal do Senhor.
Sugestões para a equipe de liturgia
  • Espaço da celebração e acolhida: preparar bem o espaço celebrativo, de modo que todos perceberam o clima de alegre expectativa da comunidade. Para isso, alguns símbolos são importantes.
  • Coloque na estrada da igreja um tronco grande, do qual deve sair um broto (que poderá ser uma orquídea ou qualquer planta verde, que dure todo o Tempo do Advento). Esse símbolo alude a comunidade que do tronco de Jessé nascerá o rebento de Davi. Ele simboliza também o sentido da espera.
  • Fazer a coroa do Advento, com ramos verdes, e a cada domingo, introduzir uma vela até completar quatro no final do Advento.
  • Acolhida: forme uma equipe de acolhida (se ainda não houver) e procure fazer uma acolhida afetuosa aos que chegam para a celebração. Nessa acolhida poderá ser dita frases como: “O Senhor já está chegando, seja bem-vindo (a)”, ou outras palavras que lembrem o significado do Tempo do Advento.
  • Ritos iniciais: na procissão de entrada, uma pessoa traz a coroa do Advento sem as velas e a deposita no suporte que já deverá estar preparado em local visível para todos. Essa entrada da coroa só se faz no primeiro domingo do Advento.
  • Quem preside ou o comentarista convida a comunidade a acolher a primeira vela do Advento (se possível, trazida por uma mulher gravida). Enquanto a vela se aproxima acesa, o grupo de canto entoa um refrão meditativo, do tipo: “Teu sol não se apagará”, ou “Ó luz do Senhor” (CD do Ofício divino das comunidades). A vela é colocada na coroa e quem a deposita, erguendo as mãos e o olhar para o alto, diz o seguinte bendito: “Bendito sejas, Senhor Deus das promessas, pela luz de teu Filho, Jesus Cristo, Senhor das nossas vidas e da história, a quem esperamos ansiosos e felizes! Ao término, todos entoam novamente o mesmo refrão meditativo.
  • Antes da primeira leitura o grupo de canto pode entoar um canto para dispor a comunidade em atitude de escuta. Esse canto poderia substituir o comentário que existe antes das leituras nos folhetos.
  • Preces: a resposta às preces poderá ser cantada e expressar desejo e expectativa, como: “Vem, Senhor. Vem Senhor. Vem libertar o seu povo”, ou semelhante.

Origem da Coroa do Advento

A Coroa de Advento tem a sua origem em uma tradição pagã européia. No inverno, se acendiam algumas velas que representavam o “fogo do deus sol”. Tinham a esperança de que a sua luz e o seu calor voltasse. Os primeiros missionários aproveitaram esta tradição para evangelizar as pessoas. Partiam de seus próprios costumes para anunciar-lhes a fé. Os cristãos assimilaram estas tradições, marcando a espera do natal (nascimento de Jesus, luz do mundo) com a confecção de uma coroa luminosa, nos mesmos moldes das antigas tradições germânicas.
Assim, a coroa está formada por uma grande quantidade de símbolos:
A forma circular
O círculo não tem princípio, nem fim. É sinal do amor de Deus que é eterno, e também do nosso amor a Deus e ao próximo que nunca se deve terminar. Além disso, o círculo dá uma ideia de “elo”, de união entre Deus e as pessoas, como uma grande “Aliança”.

As ramas verdes
Verde é a cor da esperança e da vida. Deus quer que esperemos a sua graça, o seu perdão misericordioso e a glória da vida eterna no final de nossa vida. Bênçãos que nos foram derramadas pelo Senhor Jesus, em sua primeira vinda entre nós, e que agora, com esperança renovada, aguardamos a sua consumação, na sua segunda e definitiva volta. Por isso que, nos lugares onde a coroa é de barro dar-se a dica de enfeitá-la com ramas verdes.

As quatro velas
As quatro velas da coroa simbolizam cada uma delas, uma das quatro semanas do Advento. No início, vemos nossa coroa sem luz e sem brilho. Nos recorda a experiência de escuridão do pecado. À medida que se vai aproximando o natal, vamos ao passo das semanas do Advento, acendendo uma a uma as quatro velas representando assim a chegada, do Senhor Jesus, luz do mundo, quem dissipa toda escuridão, trazendo aos nossos corações a reconciliação tão esperada.


Nos domingos do Advento, é de costume que as famílias e as comunidades católicas se reúnam em torno à coroa para rezar. A liturgia de coroa, como é conhecida esta oração em torno à coroa, se realiza de um modo muito simples. Todos se colocam em volta da coroa; se acende a vela que corresponde à semana em questão, acompanhando, se possível, com um canto. Logo se lê uma passagem da Bíblia, própria do tempo do Advento e se fazem algumas meditações.
Sugestões:
a) Se recomenda fazer a coroa de Advento em família, aproveitando a ocasião para ensinar as crianças o sentido e o significado de tal símbolo de natal.
b) A coroa deverá estar em um lugar privilegiado da casa, de preferência onde seja facilmente visível a todos, recordando assim a vinda cada vez mais próxima do Senhor Jesus e a importância de preparar-se bem para este momento.
c) É conveniente fixar um horário para se fazer a liturgia da coroa de Advento de maneira tal que seja uma ocasião familiar e ordenada, com a participação consciente de todos.
d) Se recomenda repartir as funções de cada membro da família durante a liturgia. Um pode ser o que acende a vela, outro o que lê a passagem bíblica, outro que faz algumas preces, outro que faz algum comentário... Em fim, a ideia é que todos possam participar e que seja uma ocasião de encontro familiar.

Advento, tempo de esperança

            Quando vivemos este tempo forte da Igreja, o advento, nossa atitude só pode ser de esperança. É claro que quando olhamos o mundo tão ameaçado, tão destruído pelo egoísmo, pela falta de solidariedade e tantos outros males, a única presença que nos dá força é a presença do próprio Filho de Deus. O advento celebra a vinda de Jesus Cristo no tempo e na história dos homens, para trazer-lhes a salvação. É, portanto, o tempo de expectativa, e o cristão é chamado a vivê-lo em plenitude para poder receber dignamente o Senhor no momento em que vier.
            O advento se torna tempo de esperança porque para muitos, o nosso mundo vai ser sempre assim, “pobres sempre existiram e vão continuar a existir, também os explorados e os exploradores”. Mas tanto a ressurreição de Jesus como o seu nascimento nos mostram o contrário: a força e a presença de Deus no meio dos homens dão a possibilidade de mudar a história, de lutar para melhorar a história, para transformá-la em história da salvação, de vida para todos... Nenhum poder deste mundo, nenhum governo, nenhum grupo poderoso é eterno, por mais que se apresentem assim: todos poderão ser desbancados pelo poder do Reino de Deus que está crescendo no meio de nós. Celebrar o advento é celebrar a presença de Deus em nosso meio. A sua presença nos faz caminhar mais depressa em direção ao Reino. O advento nos leva a celebrar o “dia da visita de Deus”.
            Essa visita clareia a história, faz o cristão rever o seu papel na construção deste Reino. Pela nossa fé, acreditamos que o Senhor vem para governar a história. Ele vem para salvar o povo d escravidão do pecado. Com a morte de Cristo, aos olhos dos discípulos, parecia tudo perdido, a remissão de Israel não iria mais acontecer. Mas, a ressurreição, que é o advento de Jesus, mostra o sinal da esperança: Cristo assumiu o poder, iniciou o Reino de seu Pai que significa a vitória de Deus sobre todo o mal, a realização de suas promessas. Os primeiros cristãos esperavam que essa vitória se realizasse logo, a qualquer momento. Porém, aos poucos foram percebendo que essa vitória deveria acontecer em um tempo muito maior. O Reino já existe entre nós como uma realidade dinâmica. Deverá ir crescendo até atingir seu objetivo final. Nós, cristãos, em Igreja somos sacramento deste Reino, isto é, somos fazedores do Reino. Nas comunidades e através delas Cristo vem, estabelece seu Reino, convida as pessoas a participarem, a aderirem.
            O advento do Reino de Deus traz em si uma proposta radicalmente nova de relacionamentos entre os homens e os grupos humanos; traz em si uma crítica a muitos projetos e maneiras de se organizar a sociedade e a vida individual de cada um. Vivemos numa sociedade que só visa lucro, o poder, a dominação de alguns poucos sobre outros. A pessoa humana é reduzida a mercadoria. A injustiça se petrificou nas estruturas sócio-econômicas que a cada dia matam milhares de seres humanos. Uns têm tudo, outros não têm nem terra, nem trabalho, nem salário digno, nem casa, nem comida... Viver o advento significa, portanto, rever os nossos projetos, avaliá-los à luz da mensagem do Advento do Senhor, rever o rumo que estamos tomando em nossa vida individual, social e comunitária.
            O Senhor vem: vem assumindo o governo do mundo e de nossas vidas. Vem realizando a salvação, a cada dia, a cada momento da história, até que um dia o Reino estará plenamente estabelecido. O Senhor vem: cada celebração litúrgica é uma “visita” do Senhor, dia de sua vinda, principalmente quando celebramos a Eucaristia, proclamando sua vitória sobre todas as mortes da sociedade.
            O Advento faz-nos viver profundamente este aspecto da presença-ausência do Reino. Reaviva em nós a esperança de um futuro melhor dentro de um mundo que parece estar se suicidando. Reanima a nossa coragem: os nossos esforços por uma vida digna, por uma sociedade fraterna, não serão em vão. Reaviva o nosso amor. Alguém espera em nós no ponto de chegada e já faz presente como companheiro de caminhada: o Senhor Jesus.
            O Advento é tempo de esperança. No Espírito de Cristo, a comunhão definitiva com Deus Pai já está presente na história, embora de modo invisível e misterioso. Para o fiel, esperar não é somente ficar na expectativa de que alguma coisa aconteça; é compromisso, aqui e agora, na construção do Reino de deus. A esperança, “por um lado impele o cristão a não perder de visita a meta final que dá sentido e valor à sua existência inteira, e por outro lhe oferece motivações sólidas e profundas para o empenho cotidiano na transformação da realidade a fim de torná-la conforme ao projeto de Deus”. O motivo da esperança está intimamente ligado à espera jubilosa: “O Senhor está perto” (Fl 4, 4-5). O objetivo da esperança cristã é o próprio Cristo, o mistério escondido e ao mesmo tempo revelado: “Cristo em vós, esperança da glória” (Cl 1,27).